Foto: divulgação
Nossa entrevistada é Arriete Rangel de Abreu, natural de
Castro – PR, Licenciada em Educação Artística e Graduada em Administração.
Escritora e Poeta. Mentora e gestora do Portal SemeARTE
Cultura.
Associada Fundadora do Observatório da Cultura Paranaense
- OCP
Associada e membro da diretoria do Centro Paranaense
Feminino de Cultura, da Academia de Cultura de Curitiba (ACCUR), do Centro de
Letras do Paraná, e da Associação Paranaense de Imprensa.
Membro da Comissão do Mecenato na área de Literatura da
Fundação Cultural de Curitiba.
- Fale
um pouco de seu início como poeta. Quando começou a ler poemas e quando começou
a escrever poemas?
Entre os meus sete e oito anos, gostava de datilografar
na máquina de escrever portátil, do meu pai, que ficava sobre a sua
escrivaninha - lembro até hoje dela; uma Olivette de cor verde-claro.
No período em que não ia à escola, após feitas as tarefas
escolares e obrigações de casa, começava a datilografar (papai tinha até o
manual de datilografia).
Como autodidata - fui a única filha não matriculada no
curso de datilografia, que àquela época, era condição indispensável para
pleitear qualquer vaga de emprego burocrático-
posicionava os dedos sobre as teclas e fazia os exercícios propostos no
manual.
Ao decorar a posição das letras no teclado e
familiarizada com o deslocamento dos dedos, comecei a achar enfadonho seguir o
manual.
Para solucionar tal inquietação, pegava os livros
utilizados na escola, normalmente das matérias de português e história e também
jornais de domingo. Procurava um texto que me agradasse e datilografava.
Quando deparava-me com poesias, adorava! Cheguei a
guardar todas que datilografei por longos anos.
Também sentia enorme prazer em ler. Era o meu passatempo
predileto.
Acredito que entre dez e doze anos, escrevi minha
primeira poesia que intitulei “Inexplicável”. Lembro de uma parte:
"Um sem porque
Sem razão, sem explicação
Sem nada para se comentar
Um nada diante do tudo, do tudo que não é nada.
Um ideal e basta
Talvez seja o bastante para um novo caminho
Caminho ainda incerto, porém cheio de certezas e
inseguranças
Onde o nada diante do tudo, transforma-se no tudo diante
do nada."
Eis o meu despertar poético.
"Escrever
profissionalmente e poder viver unicamente do rendimento da venda de livros é
realidade para pouquíssimos, até e porque a realidade atual não diverge do
passado, longínquo e recente."
Arriete Rangel de
Abreu
"Escrever
profissionalmente e poder viver unicamente do rendimento da venda de livros é
realidade para pouquíssimos, até e porque a realidade atual não diverge do
passado, longínquo e recente."
Arriete Rangel de Abreu
- Pode
citar os nomes de cinco poetas que admire?
Citar somente cinco nomes entre poetas universais ou não,
mas que admiro é muito, muito difícil.
Dos nomes que listarei, certamente estarei sendo injusta
com alguns que, ao atender rigorosamente a pergunta formulada, terei de omitir.
Sinto-me na obrigação de destacar então, os poetas da
nossa terra, e um nascido naquela que é considerada nossa pátria mãe, Portugal.
Augusto dos Anjos
Quando li Versos Íntimos fiquei impactada.
Não chocada, mas literalmente impactada pela
expressividade visceral, com que Augusto dos Anjos expôs o infortúnio da doença
e a dor da sua alma, tão ou mais enferma que o próprio corpo.
Nunca mais o esqueci, menos ainda, da poesia.
Gonçalves Dias
Como não reverenciar o poeta que, em Canção do Exílio,
revela saudade doída da terra em que nasceu e longe dela se encontrava?
Impossível!
Impossível porque Canção do Exílio, para mim, é um
emblema pátrio atemporal, que deveria estar incluída entre os símbolos
nacionais - versa linda e amorosamente sobre o Brasil que nos encanta e muito
amamos.
Fernando Pessoa
Pelo conjunto de sua poesia, que universal e
imortalizada, mantém-se abrangente e em constante evidência.
Foi um obstinado obreiro de lindos versos apesar do curto
espaço de tempo em que viveu (de 1888 a 1935).
Simplesmente maravilhoso.
Carlos Drummond de Andrade
Brasilidade contemporânea desenvolvida na brejeirice do ventre mineiro.
Extrapola! Sem cortar raízes, divaga sobre o cotidiano:
ora tenta entendê-lo, ora senti-lo.
Em sua poesia do século XX, muitas das nossas
inquietações neste século XXI.
O poema, Congresso Internacional do Medo, publicado no
livro Sentimento do Mundo, em 1940,
faz uma exaltação ao medo – remete-me aos dias atuais.
Jamil Snege
Encerro esta questão, com autor Paranaense nascido em
Curitiba e com ele, assumo declarada admiração aos excelentes poetas do nosso
estado, que borrifam e polvilham letras conjugadas, em extraordinárias
construções poéticas.
Merecedores são de reconhecimento junto à população do
Paraná, Brasil e além território nacional.
Entre suas obras poéticas, “Senhor” e “Meu Paraná”.
Tocantes!
Sente
na sua obra a influência de alguns ou alguns poetas?
Diretamente não. O que percebo e muito me agrada é que,
quanto mais leio poesias, identifico-me com alguns poetas, pela proximidade
literária da forma de expressão. É quando sinto estar envolvida, como se na mesma sintonia com um ou outro
autor.
Este elã independe do gênero textual, porém depende do momento em que se dá o encontro
entre determinado autor e o meu eu, enquanto leitora. Enquanto leitora de
poesia, tento declamá-la e sentir a mesma emoção e perspectiva, do poeta que a
escreveu (tento ao máximo ao driblar minha certeza do: ser impossível), para
não perder a autenticidade do autor. É quando sinto que me aproximo de uma
amálgama que me liga a eles.
Por este prisma, penso que esta afinidade interior da
minha parte, chama à responsabilidade da observação aprendiz.
Em frente à lousa imaginária, visualizo estrofes variadas
e de beleza incomum, como as contidas nos versos de Carmen Carneiro, Adélia
Maria Woellner, Chloris Casagrande Justen, Céres De Ferrante, Fábio Campana,
Helena Kolody, Cecília Meireles, Cora Coralina, Manuel Bandeira e tantos,
tantos outros poetas. Faltaria espaço se listados aqui.
Determinado dia, li “Retrato Antigo”, haicai de Helena
Kolody:
“Quem é essa
que me olha
de tão longe,
Com olhos que foram meus?”
E em 2016, no dia das crianças, transbordada em afetos
íntimos, ousei responder, como em brincadeira, à maravilhosa poeta Helena
Kolody:
- Como é seu processo criativo? Para escrever
um poema, por exemplo, você parte de uma palavra? De uma imagem? De uma
vivência? De acontecimentos?
Meu processo criativo encontra-se intrinsecamente ligado
ao meu estado de espírito e emoção.
Sinto o exato momento no qual tenho que e sobre o que
escrever.
Em qualquer lugar disponho de papel, caneta e lapiseira.
Não existe hora e nem local.
Já aconteceu de acordar durante a madrugada ou pela manhã
e ter na mente a estrutura de um poema, porém sempre e indissociável da emoção
que vem acachapante.
Se não anotar passa e se eu tentar escrever depois, não
será com a mesma intensidade poética.
Escrever “sob encomenda” (para determinado evento ou
situação), evidentemente que consigo.
Nessa condição, primeiro preciso gestar, o máximo
possível, o tema ou assunto sugerido. É quando me permito o tempo da emoção em
paralelo ao desabrochar das palavras, que reúno em apontamentos desconexos
para, no momento exato versificá-las. É quando razão e emoção atingem a
sonoridade que procuro, à construção da composição poética, que tem como
objetivo, transmitir a única verdade que
naquele instante, meu interior pede passagem, para transpô-la ao papel
mensageiro; chegue ele onde e em tantos quantos leitores chegar.
Óbvio que nem sempre o processo ocorre como desejado, mas
procuro manter-me fiel a esta necessidade intimista e estar coadunada com minha
necessidade imperativa.
A maneira ou "técnica" de ir à frente do
teclado e escrever de próprio punho, depende em muito de sentir a mim, minha
pessoalidade, reflexo do momento que estou passando, minhas vivências,
expectativas, acontecimentos, anseios
e emoções presentes.
Meu estado de espírito é minha única voz no agora da
poeta.
-
Como analisa a sua própria obra? Fale de seu estilo artístico e de sua voz
poética.
Como tenho no discernimento uma característica que
considero chave para a análise, compreensão e aceitação de todas as ações
inerentes ao viver, também procuro avaliar com discernimento minha escrita.
Perfeccionista e exigente nunca fico tranqüila, ou
categorizo no patamar de excelência texto algum, crônica, ou poesia. Pelo
contrário; cobranças e insatisfações são uma constante de que não consigo me
libertar.
Tenho convicção de que não habita em mim, vaidade por
escrever e isto é alívio que me apraz.
Gosto e sinto necessidade de poetificar o viver, seja
pelas minhas impressões, ou pelas observações que capto do gigantesco universo
e comportamentos humanos, que alimentam para depois liberar, minha voz poética.
O sentimento de liberdade faz com me sinta onipresente, e
assim, possa criar.
Livro-me dos rótulos para exercitar o que atribuo, minha
liberdade poética, que envolve o todo da
e na minha escrita.
É o único momento em que me permito quase anarquista, ao não me importar muito com
regras, estilos e gêneros puros da poesia.
Embora aceite e admire, escrevo desapegada destas
condições de inegável valor, para
provocar e provar a essência da minha liberdade, e sentir-me verdadeiramente
alforriada das conturbações, exigências, urgências, preocupações e reclames
inerentes as faturas anexadas a existência, que aprisiona, cobra e subtrai a
leveza do meu ser.
Preciso estar presente em todos os lugares, mesmo estando
em minha casa.
Imaginariamente ou via “web” viajo cidades e países.
Contemplativa, observo a natureza e converso com todos, seja o pedinte de rua,
o motorista de táxi ou de aplicativos, o passageiro do ônibus, metrô e avião, o
porteiro e servente do prédio onde resido, o erudito, o político, o colega de
trabalho, o poeta e ou escritor amigo, o jornalista e antigamente, o
jornaleiro. Enfim, o dono ou funcionário da banca de jornais, o atendente da
loja, o empresário, o artista, o fornecedor de produtos, o caixa do
supermercado, colegas, amigos e familiares. Assim mesmo: estimulo meu olhar
holístico para adquirir conhecimentos inerentes aos seres vivos ou não - até
com meu cachorrinho de estimação eu conversava, como também já conversei com as
estrelas, abracei árvores, divaguei em frente a imensidão do mar.
Tudo o que faz parte do nosso planeta, em constante
mudança e diversidade. é pote do meu ouro inesgotável, além arco íris.
Nada; nada vivencio sem entrega total e credito a
isto a raiz da minha escrita – fonte
infinita de energia para decifrar e depois escrever sobre a vida, sentimentos e
emoções.
Minha voz poética é herança em vida que recebo da pessoa
Arriete – vivente efusiva das horas lúdicas e consternada nos tempos caóticos,
quando dor, angústia e sofrimento pairam sobre a humanidade, como agora.
Em meu viver, o caminhar de mãos dadas, é fundamento
precioso e do qual não abdico.
Meu olhar solidário me permite o viver em comunhão,
atenta, perceptiva e receptiva ao próximo. Eis o sustentáculo, que a poeta
empresta, para emprego do exercício pleno da sua voz poética.
Nesta
época muitas pessoas escrevem poemas. Você pensa que essa explosão poética
elevará a poesia ou a banalizará?
Penso que, como em todas as áreas, há espaço para tudo e
todos e que o mercado (como aprendi na Faculdade de Administração) é seletivo e
escolhe o que considera melhor, mesmo que demore.
Há ainda a consideração subjetiva e até mesmo objetiva do
que é melhor para mim ou para outrem.
Evidente que crítica especializada e tantos outros
fatores, influenciam e com muito peso, para classificar e difundir o que é
plausível e o que é banal e ainda assim, não deixarão de existir leitores para
todos os autores.
Se compararmos com a música, peças teatrais, programas de televisão (jornalísticos ou de
entretenimento), canais do “YouTube”, serviços de “streaming”, etc., onde temos enorme variedade de demandas
e público para tudo e todos.
Se focarmos na poesia, também existirão leitores para
tudo e todos.
Cabe a cada um dos leitores, sua predileção dependendo do
patamar em que se enquadre.
Com isto não estou querendo dizer que o padrão do sistema
econômico vigente e o mercado editorial, centralizado principalmente no Rio de
Janeiro e em São Paulo, além da rede de relacionamentos, histórico literário,
social e educacional individual de cada autor e leitor, não influenciem para a
divulgação e alavancagem comercial de qualquer obra. Sem dúvida, são fatores
que muito contribuem à abrangência de certas
obras e seus autores.
Como sempre, às boas exceções, restam a fortuna da
compreensão, aceitação e empatia com um contingente cada vez menor de leitores
de poesias e textos que ultrapassem as quatro ou cinco linhas.
Aos demais, o corriqueiro no universo cada dia mais
virtual e urgente, ao se considerar a premência de não poder ou querer perder
tempo, com leitura mais substancial, não imediatista, reflexiva e incorporada
de maiores argumentos e conhecimentos.
A “internet” para muitos, só reflete síntese.
Escrever profissionalmente e poder viver unicamente do
rendimento da venda de livros é realidade para pouquíssimos, até e porque a
realidade atual não diverge do passado, longínquo e recente.
Classifico, no mínimo como interessante, algumas
abordagens que volta e meia ressurgem, como que para enfatizar um problema, sem
que voltar olhares e ações para a sua solução.
É recorrente e em todas as áreas: trata-se o mal pelos sintomas e não pela
origem ou causa primária.
Falam muito da má qualidade das letras das músicas de
hoje, da poesia, da literatura, da arte, etc.
Bravo! Sobrevivem os clássicos; na música, na escrita e
em todas as artes.
Mas a pergunta que me faço, é a razão de não surgir ou
mui raro aparecer um compositor, letrista, poeta, artista, atleta, engenheiro,
médico, advogado, etc. que por mérito e excelência no seu ofício, conquiste
louros e reconhecimento?
Óbvio que vivemos mergulhados no capitalismo selvagem
durante anos; que o “marketing” aliado a grande investimento financeiro é
fundamental; que o “network”, e outros fatores se tornaram obrigatórios na
escalada para o sucesso e prosperidade. Mas é só isto que continuaremos a
aceitar verdade absoluta e intransmutável?
Pela minha compreensão, o conformismo subserviente é
alimentado e interessa aos poucos beneficiados por ele e pela minha verdade, a
desigualdade em todos os seus aspectos continua a ser, a mola propulsora de uma
minoria em detrimento daqueles que, sem privilégios, não nasceram em berço
esplêndido e não foram contemplados por oportunidades criadas e direcionadas
pelos que, nepotistas, enxergam e priorizam apenas os seus e abandonam à
própria sorte, os que ameaçam a hegemonia do que pretendem; seus clãs,
preservados pelo poder que pretendem, imutável.
Enquanto preponderar esta desigualdade fomentadora da
subversão, do antagonismo, da violência, da má instrução, da corrupção e mais
que nunca, da agora declarada polaridade que estamos presenciando, iremos
conviver com a prevalência dicotômica entre o muito bom e o péssimo, o
substancial e o descartável, a elite e a plebe e o sucesso e o fracasso. O meio
termo continuará a ser mantido na razoabilidade, com pouca oportunidade de
evoluir.
A história relata desde o início da humanidade, o mesmo
roteiro e ainda não nos demos conta, de que não precisamos ser covardes, muito
menos vaidosos a temer perder o espaço que, egoístas, atribuímos unicamente
nossos.
Não existe ameaça mais daninha para a humanidade, que o
culto ao poder que desagrega e exclui. Este sepulcra, não semeia.
Ao persistir mesmo olhar, como posso rotular ou cobrar
conteúdos, que considere fracos e que não expressem em formatação abarcada pela
norma culta, por sentimentos, emoções, vivencias e realidade que não as minhas?
Certamente transmitem para muitos, a realidade que os circundam.
Indistintamente encontram-se disseminando o que desejam e
o que sentem, como sabem e podem.
Questão de cultura? Não e tão somente. A mim parece que a
reflexão deve ultrapassar doutrinas pré- estabelecidas, que servem apenas como
justificativas vãs e cômodas, aos defensores da contínua discrepância que
somente assola, através de velada dominação, com o intuito de manter imutáveis,
os padrões que exacerbam desigualdades, tendo como finalidade única, usufruir
ao extremo dos excessos, nem sempre lícitos,
de seus poderes.
- Como
faz os títulos de seus poemas? Você escolhe alguma palavra do poema, procura
inspiração em outros textos ou os títulos surgem na sua cabeça?
Aí está uma dificuldade criativa que me incomoda em
muito.
Considero que ainda não ultrapasso a ingenuidade quase
infantil, ao não conseguir transpor a objetividade.
Normalmente gosto de ancorar primeiro o título, para
depois mergulhar nos versos.
Já aconteceu (acontece sempre), de iniciar desta maneira
e depois de concluídas as estrofes, alterar o título. Extraio uma palavra da
poesia, ou aglutino duas ou mais.
Não gosto de ser tão óbvia, por acreditar que desta
maneira, direciono e induzo à voz poética o que considero, empobrece todo o
contexto, porém e de momento, continuo a tentar aprimorar esta deficiência e
amadurecer esta identidade infanta que, certa estou, ainda sobressai.
- Qual é a sua expectativa? Espera alguma reação específica dos leitores?
Como escrevi acima, não alimento vaidade alguma quanto ao
retorno às minhas poesias.
O que relevo, são comentários que revelam, estar no
caminho certo, pois minha poesia alcançou leitores, mesmo que apenas alguns.
Não sou desfavorável às críticas, corretivas e
construtivas.
Reconheço manter-me humildemente aberta ao conhecimento.
Postulo-me eterna aprendiz e acredito piamente que,
enquanto da nossa passagem neste plano, aprendizado é condição “sine qua non”
para nossa evolução.
Respeito todas as opiniões, sem deixar de filtrar e
selecionar, o que considero efetivamente importante, condiga com a perspectiva
da minha escrita e que venha a acrescentar ao meu trabalho.
Depreciações gratuitas, ainda que, até hoje não tenha
havido, estas nem considero, pois em nada contribuem e a nada me levarão.
O preponderante para mim é a satisfação e alegria que
sinto, ao perceber que meus versos alcançaram, emocionaram ou despertaram a
reflexão em alguém. Esta é minha paga.
Maior e melhor reconhecimento não há.
- Segundo a sua percepção esta época de pandemia mundial é boa ou é ruim para a criação literária? Você se sente mais ou menos inspirada?
Este momento que vivenciamos, embora dramático, é de uma
riqueza enorme para a criação literária, sem a menor sombra de dúvida.
Múltiplas facetas foram, acompanham e estão sendo
desfraldadas vertiginosamente pela pandemia, causada pelo Corona Vírus. Outras
tantas serão reveladas em todos os níveis, áreas e segmentos que afetam
diretamente a humanidade.
Poetas e escritores disponibilizam de vasto e riquíssimo
material, suficiente o bastante para registros em todas as vertentes
literárias.
Poesias, crônicas, romances, contos, ensaios, novelas,
elegias, odes, éctogas, sonetos, autos, tragédias, tragicomédias, farsa e até
mesmo fábulas podem compor abordagens épicas, líricas e dramáticas ao calcar-se
em vasto conteúdo, carregado de histórias reais ou nem tanto, situações, ações,
reações, consequências e inconsequências.
Positividades e negatividades, impregnaram-se em todos os
seres humanos, que compulsoriamente foram atingidos e impactados, dentro da
casa materna; a terra.
Não é exagero afirmar que o globo terrestre está virado
de cabeça para baixo em nossas mentes, tamanha as incertezas e angústias que
persistem, como efeito desta causa, ainda desconhecida que, sorrateira e
inadvertida, molesta corpos, mentes e espíritos.
Como um todo: Apesar da pandemia realçar incertezas,
angústias e tristezas quando alguns se consideravam em caminho assertivo;
outros nem tanto – sem ressalvas, a humanidade teve subtraída a sua zona de
conforto. Aos sobreviventes, nada resta que agarrar-se, cada qual, à sua
verdade, crença, valores, conhecimento e esclarecimento para adaptar-se, com urgência,
à emergência em que nos vemos acometidos.
Resta explicitar que, apesar do infortúnio causado pelo
Covid 19 e suas variantes ser maior, do que tudo o que toda a humanidade até
agora vivenciou de maneira explícita e extremadamente traumática, não podemos
ignorar que surgiram e realçaram-se novos “modus operandis” para se viver, onde
a tecnologia da informação ocupa lugar primeiro e irreversível na esfera
social, comercial e profissional afinal, embora ilhados em nossas residências,
temos acesso à rápida e disponível comunicação, que possibilita os mais
diversos e indispensáveis contatos, que atenuam variadas necessidades, mesmo
com deficiências, dificuldades e
distante da realidade de um contingente de pessoas, que não dispõem de
equipamentos e acessibilidade que possa lhes auxiliar na premência da
subsistência.
Através da sensibilidade de poetas, escritores, artistas
e historiadores, no futuro distante, as gerações vindouras irão tomar
conhecimento, sobre a insólita aflição que dominou o planeta terra, na segunda
década do século XXI, em que perdurou o terror iniciado oficialmente no início
do ano 2020 e que até agora, ainda vivenciamos sem saber até quando.
Saberão eles, onde e como preponderou o bom senso e o
absurdo.
Terão conhecimento sobre as batalhas travadas para vencer
a pandemia; saberão que a ciência, cria do ser humano voltada à evolução e
melhor conforto aos homens e mulheres da Terra, em muitos casos, envaidece
pejorativamente os cientistas; continua a desencadear atrocidades comerciais quando
da oferta ser menor que a demanda e que a humanidade em desespero, não se
viu contemplada em igualdade de
tratamento e atenção, e pouco aprendeu com todo o sofrimento causado por duas
guerras mundiais, pela gripe espanhola, pela queda das torres gêmeas e outros
tantos calvários.
Talvez percebam, que muito pouco adianta possuir maior
disponibilidade econômica e social - a pandemia provou ser capaz de vencer o
poder, ao colocar todos, frente à ameaça
mortal.
Receberão exemplos de solidariedade e de egoísmo; de
demonstrações aviltantes de mau caratismo e abundantes de benevolência.
Quem sabe, venham a entender que nem sempre somos
fagulhas, com poder de chama e que nosso tempo é o percurso entre faíscas
repentinas: a primeira, acesa, é vida; a segunda, ao se apagar, é morte. Entre
as duas, nossas escolhas, por vezes, arrogantes e absolutas...basta um vírus, para tudo mudar.
Será que mudará?
Fale
de seus projetos para 2021.
2021 está sendo ano de dilema: passa o ano ou passo eu?
A sensação angustiante causada pelas incertezas dá a
impressão de uma quase total inatividade, que assusta.
Vejo o tempo passar pela minha janela e com ele o meu
tempo de viver, que parece roubado pelo impedimento do ir e vir, do estar junto
com familiares e amigos.
A rotina do ontem, muitas vezes e antes da pandemia,
reclamada como enjoativa e estressante, parece mais distante do que realmente
é, e desperta uma saudade imensa.
Saudade do oi e do tchau.
Saudade dos sorrisos não velados e dos olhares menos
nublados – lágrimas vertem a dor das perdas de entes queridos, amigos e
conhecidos; até dos conhecidos dos amigos, parentes, familiares e colegas.
Molham e salgam faces, que atrás das máscaras imprescindíveis, parecem cravar o
cortejo no impossível adeus.
O peso mostra-se infinitamente maior. Entorpece a mente e
faz desobedecer, o corpo; paralisa mãos que realizam e pensares...muitos
pensares.
Para não cair no ostracismo, escrever, ler, ouvir música
tem sido escudo protetor.
As redes sociais, contribuem em muito, para manter os
contatos e as plataformas possibilitam as reuniões de trabalho.
Alguns projetos sendo esboçados, outros parecem
enclausurados, como eu; como nós.
A cura inconclusiva para o vírus e a indefinição de prazo para o ir e vir ainda
não permite, pelo menos a mim, projeto a longo prazo.
Estamos próximos do segundo semestre, do ano zerado, na
quase totalidade da minha agenda.
Quero me dedicar mais ao meu Portal:
www.semeartecultura.com.br.
Ano passado e primeiro semestre deste tinha objetivos
concretos, mas fui obrigada a postergá-los.
Estou a encubar idéias, rabiscar perspectivas e a dar
vazão aos muitos sentimentos, redescobertas e descobertas que expresso na
poesia e em algumas habilidades que despontam, por enquanto, descompromissadas,
mas exteriorizam minhas emoções – trazem alívio quando encontro-me em
sofreguidão.
Principal e constantemente, escrever novas poesias,
revisitar as escritas e selecioná-las para o meu primeiro livro solo.
Mais que isto me parece, ainda, imponderável diante da
não concretude do que está por vir.
Que, a partir de agora, seja breve, muito breve, o tempo
deste não sei, que impede planos com data marcada.
***
Comentários
Postar um comentário