Isabel Furini entrevista a escritora e poeta Arriete Rangel de Abreu

 

     Foto: divulgação

Nossa entrevistada é Arriete Rangel de Abreu, natural de Castro – PR, Licenciada em Educação Artística e Graduada em Administração.

Escritora e Poeta. Mentora e gestora do Portal SemeARTE Cultura.

Associada Fundadora do Observatório da Cultura Paranaense - OCP

Associada e membro da diretoria do Centro Paranaense Feminino de Cultura, da Academia de Cultura de Curitiba (ACCUR), do Centro de Letras do Paraná, e da Associação Paranaense de Imprensa.

Membro da Comissão do Mecenato na área de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba.

 





- Fale um pouco de seu início como poeta. Quando começou a ler poemas e quando começou a escrever poemas?

Entre os meus sete e oito anos, gostava de datilografar na máquina de escrever portátil, do meu pai, que ficava sobre a sua escrivaninha - lembro até hoje dela; uma Olivette de cor verde-claro.

No período em que não ia à escola, após feitas as tarefas escolares e obrigações de casa, começava a datilografar (papai tinha até o manual de datilografia).

Como autodidata - fui a única filha não matriculada no curso de datilografia, que àquela época, era condição indispensável para pleitear qualquer vaga de emprego burocrático-  posicionava os dedos sobre as teclas e fazia os exercícios propostos no manual.

Ao decorar a posição das letras no teclado e familiarizada com o deslocamento dos dedos, comecei a achar enfadonho seguir o manual.

Para solucionar tal inquietação, pegava os livros utilizados na escola, normalmente das matérias de português e história e também jornais de domingo. Procurava um texto que me agradasse e datilografava.

Quando deparava-me com poesias, adorava! Cheguei a guardar todas que datilografei por longos anos.

Também sentia enorme prazer em ler. Era o meu passatempo predileto.

Acredito que entre dez e doze anos, escrevi minha primeira poesia que intitulei “Inexplicável”. Lembro de uma parte:

"Um sem porque

Sem razão, sem explicação

Sem nada para se comentar

Um nada diante do tudo, do tudo que não é nada.

Um ideal e basta

Talvez seja o bastante para um novo caminho

Caminho ainda incerto, porém cheio de certezas e inseguranças

Onde o nada diante do tudo, transforma-se no tudo diante do nada."

Eis o meu despertar poético.

 

"Escrever profissionalmente e poder viver unicamente do rendimento da venda de livros é realidade para pouquíssimos, até e porque a realidade atual não diverge do passado, longínquo e recente."  

Arriete Rangel de Abreu


- Pode citar os nomes de cinco poetas que admire?

Citar somente cinco nomes entre poetas universais ou não, mas que admiro é muito, muito difícil.

Dos nomes que listarei, certamente estarei sendo injusta com alguns que, ao atender rigorosamente a pergunta formulada, terei de omitir.

Sinto-me na obrigação de destacar então, os poetas da nossa terra, e um nascido naquela que é considerada nossa pátria mãe, Portugal.

Augusto dos Anjos


Quando li Versos Íntimos fiquei impactada.

Não chocada, mas literalmente impactada pela expressividade visceral, com que Augusto dos Anjos expôs o infortúnio da doença e a dor da sua alma, tão ou mais enferma que o próprio corpo.

Nunca mais o esqueci, menos ainda, da poesia.


Gonçalves Dias


Como não reverenciar o poeta que, em Canção do Exílio, revela saudade doída da terra em que nasceu e longe dela se encontrava?

Impossível!

Impossível porque Canção do Exílio, para mim, é um emblema pátrio atemporal, que deveria estar incluída entre os símbolos nacionais - versa linda e amorosamente sobre o Brasil que nos encanta e muito amamos.


Fernando Pessoa


Pelo conjunto de sua poesia, que universal e imortalizada, mantém-se abrangente e em constante evidência.

Foi um obstinado obreiro de lindos versos apesar do curto espaço de tempo em que viveu (de 1888 a 1935).

Simplesmente maravilhoso.


Carlos Drummond de Andrade


Brasilidade contemporânea desenvolvida na  brejeirice do ventre mineiro.

Extrapola! Sem cortar raízes, divaga sobre o cotidiano: ora tenta entendê-lo, ora senti-lo.

Em sua poesia do século XX, muitas das nossas inquietações neste século XXI.

O poema, Congresso Internacional do Medo, publicado no livro Sentimento do Mundo, em 1940,

faz uma exaltação ao medo – remete-me aos dias atuais.


Jamil Snege

Encerro esta questão, com autor Paranaense nascido em Curitiba e com ele, assumo declarada admiração aos excelentes poetas do nosso estado, que borrifam e polvilham letras conjugadas, em extraordinárias construções poéticas.

Merecedores são de reconhecimento junto à população do Paraná, Brasil e além território nacional.

Entre suas obras poéticas, “Senhor” e “Meu Paraná”. Tocantes!

 


Sente na sua obra a influência de alguns ou alguns poetas?

Diretamente não. O que percebo e muito me agrada é que, quanto mais leio poesias, identifico-me com alguns poetas, pela proximidade literária da forma de expressão. É quando sinto estar envolvida,  como se na mesma sintonia com um ou outro autor.

Este elã independe do gênero textual, porém  depende do momento em que se dá o encontro entre determinado autor e o meu eu, enquanto leitora. Enquanto leitora de poesia, tento declamá-la e sentir a mesma emoção e perspectiva, do poeta que a escreveu (tento ao máximo ao driblar minha certeza do: ser impossível), para não perder a autenticidade do autor. É quando sinto que me aproximo de uma amálgama que me liga a eles.

Por este prisma, penso que esta afinidade interior da minha parte, chama à responsabilidade da observação aprendiz.

Em frente à lousa imaginária, visualizo estrofes variadas e de beleza incomum, como as contidas nos versos de Carmen Carneiro, Adélia Maria Woellner, Chloris Casagrande Justen, Céres De Ferrante, Fábio Campana, Helena Kolody, Cecília Meireles, Cora Coralina, Manuel Bandeira e tantos, tantos outros poetas. Faltaria espaço se listados aqui.

Determinado dia, li “Retrato Antigo”, haicai de Helena Kolody:

“Quem é essa

que me olha

de tão longe,

Com olhos que foram meus?”

E em 2016, no dia das crianças, transbordada em afetos íntimos, ousei responder, como em brincadeira, à maravilhosa poeta Helena Kolody:

 



 - Como é seu processo criativo? Para escrever um poema, por exemplo, você parte de uma palavra? De uma imagem? De uma vivência? De acontecimentos?

Meu processo criativo encontra-se intrinsecamente ligado ao meu estado de espírito e emoção.

Sinto o exato momento no qual tenho que e sobre o que escrever.

Em qualquer lugar disponho de papel, caneta e lapiseira.

Não existe hora e nem local.

Já aconteceu de acordar durante a madrugada ou pela manhã e ter na mente a estrutura de um poema, porém sempre e indissociável da emoção que vem acachapante.

Se não anotar passa e se eu tentar escrever depois, não será com a mesma intensidade poética.

Escrever “sob encomenda” (para determinado evento ou situação), evidentemente que consigo.

Nessa condição, primeiro preciso gestar, o máximo possível, o tema ou assunto sugerido. É quando me permito o tempo da emoção em paralelo ao desabrochar das palavras, que reúno em apontamentos desconexos para, no momento exato versificá-las. É quando razão e emoção atingem a sonoridade que procuro, à construção da composição poética, que tem como objetivo,  transmitir a única verdade que naquele instante, meu interior pede passagem, para transpô-la ao papel mensageiro; chegue ele onde e em tantos quantos leitores chegar.

Óbvio que nem sempre o processo ocorre como desejado, mas procuro manter-me fiel a esta necessidade intimista e estar coadunada com minha necessidade imperativa.

A maneira ou "técnica" de ir à frente do teclado e escrever de próprio punho, depende em muito de sentir a mim, minha pessoalidade, reflexo do momento que estou passando, minhas vivências, expectativas, acontecimentos,  anseios e  emoções presentes.

Meu estado de espírito é minha única voz no agora da poeta.

 





- Como analisa a sua própria obra? Fale de seu estilo artístico e de sua voz poética.

Como tenho no discernimento uma característica que considero chave para a análise, compreensão e aceitação de todas as ações inerentes ao viver, também procuro avaliar com discernimento minha escrita.

Perfeccionista e exigente nunca fico tranqüila, ou categorizo no patamar de excelência texto algum, crônica, ou poesia. Pelo contrário; cobranças e insatisfações são uma constante de que não consigo me libertar.

Tenho convicção de que não habita em mim, vaidade por escrever e isto é alívio que me apraz.

Gosto e sinto necessidade de poetificar o viver, seja pelas minhas impressões, ou pelas observações que capto do gigantesco universo e comportamentos humanos, que alimentam para depois liberar, minha voz poética.

O sentimento de liberdade faz com me sinta onipresente, e assim, possa criar.

Livro-me dos rótulos para exercitar o que atribuo, minha liberdade poética,  que envolve o todo da e na minha escrita.

É o único momento em que me permito quase  anarquista, ao não me importar muito com regras, estilos e gêneros puros da poesia.

Embora aceite e admire, escrevo desapegada destas condições de inegável valor,  para provocar e provar a essência da minha liberdade, e sentir-me verdadeiramente alforriada das conturbações, exigências, urgências, preocupações e reclames inerentes as faturas anexadas a existência, que aprisiona, cobra e subtrai a leveza do meu ser.

Preciso estar presente em todos os lugares, mesmo estando em minha casa.

Imaginariamente ou via “web” viajo cidades e países. Contemplativa, observo a natureza e converso com todos, seja o pedinte de rua, o motorista de táxi ou de aplicativos, o passageiro do ônibus, metrô e avião, o porteiro e servente do prédio onde resido, o erudito, o político, o colega de trabalho, o poeta e ou escritor amigo, o jornalista e antigamente, o jornaleiro. Enfim, o dono ou funcionário da banca de jornais, o atendente da loja, o empresário, o artista, o fornecedor de produtos, o caixa do supermercado, colegas, amigos e familiares. Assim mesmo: estimulo meu olhar holístico para adquirir conhecimentos inerentes aos seres vivos ou não - até com meu cachorrinho de estimação eu conversava, como também já conversei com as estrelas, abracei árvores, divaguei em frente a imensidão do mar.

Tudo o que faz parte do nosso planeta, em constante mudança e diversidade. é pote do meu ouro inesgotável, além arco íris.

Nada; nada vivencio sem entrega total e credito a isto  a raiz da minha escrita – fonte infinita de energia para decifrar e depois escrever sobre a vida, sentimentos e emoções.

Minha voz poética é herança em vida que recebo da pessoa Arriete – vivente efusiva das horas lúdicas e consternada nos tempos caóticos, quando dor, angústia e sofrimento pairam sobre a humanidade, como agora.

Em meu viver, o caminhar de mãos dadas, é fundamento precioso e do qual não abdico.

Meu olhar solidário me permite o viver em comunhão, atenta, perceptiva e receptiva ao próximo. Eis o sustentáculo, que a poeta empresta, para emprego do exercício pleno da sua voz poética.

 


Nesta época muitas pessoas escrevem poemas. Você pensa que essa explosão poética elevará a poesia ou a banalizará?

Penso que, como em todas as áreas, há espaço para tudo e todos e que o mercado (como aprendi na Faculdade de Administração) é seletivo e escolhe o que considera melhor, mesmo que demore.

Há ainda a consideração subjetiva e até mesmo objetiva do que é melhor para mim ou para outrem.

Evidente que crítica especializada e tantos outros fatores, influenciam e com muito peso, para classificar e difundir o que é plausível e o que é banal e ainda assim, não deixarão de existir leitores para todos os autores.

Se compararmos com a música, peças teatrais,  programas de televisão (jornalísticos ou de entretenimento), canais do “YouTube”, serviços de “streaming”,  etc., onde temos enorme variedade de demandas e público para tudo e todos.

Se focarmos na poesia, também existirão leitores para tudo e todos.

Cabe a cada um dos leitores, sua predileção dependendo do patamar em que se enquadre.

Com isto não estou querendo dizer que o padrão do sistema econômico vigente e o mercado editorial, centralizado principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo, além da rede de relacionamentos, histórico literário, social e educacional individual de cada autor e leitor, não influenciem para a divulgação e alavancagem comercial de qualquer obra. Sem dúvida, são fatores que muito contribuem à abrangência de certas  obras e seus autores.

Como sempre, às boas exceções, restam a fortuna da compreensão, aceitação e empatia com um contingente cada vez menor de leitores de poesias e textos que ultrapassem as quatro ou cinco linhas.

Aos demais, o corriqueiro no universo cada dia mais virtual e urgente, ao se considerar a premência de não poder ou querer perder tempo, com leitura mais substancial, não imediatista, reflexiva e incorporada de maiores argumentos e conhecimentos.

A “internet” para muitos, só reflete síntese.

Escrever profissionalmente e poder viver unicamente do rendimento da venda de livros é realidade para pouquíssimos, até e porque a realidade atual não diverge do passado, longínquo e recente.

Classifico, no mínimo como interessante, algumas abordagens que volta e meia ressurgem, como que para enfatizar um problema, sem que voltar olhares e ações para a sua solução.

É recorrente e em todas as áreas:  trata-se o mal pelos sintomas e não pela origem ou causa primária.

Falam muito da má qualidade das letras das músicas de hoje, da poesia, da literatura, da arte, etc.

Bravo! Sobrevivem os clássicos; na música, na escrita e em todas as artes.

Mas a pergunta que me faço, é a razão de não surgir ou mui raro aparecer um compositor, letrista, poeta, artista, atleta, engenheiro, médico, advogado, etc. que por mérito e excelência no seu ofício, conquiste louros e reconhecimento?

Óbvio que vivemos mergulhados no capitalismo selvagem durante anos; que o “marketing” aliado a grande investimento financeiro é fundamental; que o “network”, e outros fatores se tornaram obrigatórios na escalada para o sucesso e prosperidade. Mas é só isto que continuaremos a aceitar verdade absoluta e intransmutável?

Pela minha compreensão, o conformismo subserviente é alimentado e interessa aos poucos beneficiados por ele e pela minha verdade, a desigualdade em todos os seus aspectos continua a ser, a mola propulsora de uma minoria em detrimento daqueles que, sem privilégios, não nasceram em berço esplêndido e não foram contemplados por oportunidades criadas e direcionadas pelos que, nepotistas, enxergam e priorizam apenas os seus e abandonam à própria sorte, os que ameaçam a hegemonia do que pretendem; seus clãs, preservados pelo poder que pretendem, imutável.

Enquanto preponderar esta desigualdade fomentadora da subversão, do antagonismo, da violência, da má instrução, da corrupção e mais que nunca, da agora declarada polaridade que estamos presenciando, iremos conviver com a prevalência dicotômica entre o muito bom e o péssimo, o substancial e o descartável, a elite e a plebe e o sucesso e o fracasso. O meio termo continuará a ser mantido na razoabilidade, com pouca oportunidade de evoluir.

A história relata desde o início da humanidade, o mesmo roteiro e ainda não nos demos conta, de que não precisamos ser covardes, muito menos vaidosos a temer perder o espaço que, egoístas, atribuímos unicamente nossos.

Não existe ameaça mais daninha para a humanidade, que o culto ao poder que desagrega e exclui. Este sepulcra, não semeia.

Ao persistir mesmo olhar, como posso rotular ou cobrar conteúdos, que considere fracos e que não expressem em formatação abarcada pela norma culta, por sentimentos, emoções, vivencias e realidade que não as minhas? Certamente transmitem para muitos, a realidade que os circundam.

Indistintamente encontram-se disseminando o que desejam e o que sentem, como sabem e podem.

Questão de cultura? Não e tão somente. A mim parece que a reflexão deve ultrapassar doutrinas pré- estabelecidas, que servem apenas como justificativas vãs e cômodas, aos defensores da contínua discrepância que somente assola, através de velada dominação, com o intuito de manter imutáveis, os padrões que exacerbam desigualdades, tendo como finalidade única, usufruir ao extremo dos excessos, nem sempre lícitos,  de seus poderes.

 


- Como faz os títulos de seus poemas? Você escolhe alguma palavra do poema, procura inspiração em outros textos ou os títulos surgem na sua cabeça?

Aí está uma dificuldade criativa que me incomoda em muito.

Considero que ainda não ultrapasso a ingenuidade quase infantil, ao não conseguir transpor a objetividade.

Normalmente gosto de ancorar primeiro o título, para depois mergulhar nos versos.

Já aconteceu (acontece sempre), de iniciar desta maneira e depois de concluídas as estrofes, alterar o título. Extraio uma palavra da poesia, ou aglutino duas ou mais.

Não gosto de ser tão óbvia, por acreditar que desta maneira, direciono e induzo à voz poética o que considero, empobrece todo o contexto, porém e de momento, continuo a tentar aprimorar esta deficiência e amadurecer esta identidade infanta que, certa estou, ainda sobressai.

 

- Qual é a sua expectativa? Espera alguma reação específica dos leitores?

Como escrevi acima, não alimento vaidade alguma quanto ao retorno às minhas poesias.

O que relevo, são comentários que revelam, estar no caminho certo, pois minha poesia alcançou leitores, mesmo que apenas alguns.

Não sou desfavorável às críticas, corretivas e construtivas.

Reconheço manter-me humildemente aberta ao conhecimento.

Postulo-me eterna aprendiz e acredito piamente que, enquanto da nossa passagem neste plano, aprendizado é condição “sine qua non” para nossa evolução.

Respeito todas as opiniões, sem deixar de filtrar e selecionar, o que considero efetivamente importante, condiga com a perspectiva da minha escrita e que venha a acrescentar ao meu trabalho.

Depreciações gratuitas, ainda que, até hoje não tenha havido, estas nem considero, pois em nada contribuem e a nada me levarão.

O preponderante para mim é a satisfação e alegria que sinto, ao perceber que meus versos alcançaram, emocionaram ou despertaram a reflexão em alguém. Esta é minha paga.

Maior e melhor reconhecimento não há.



- Segundo a sua percepção esta época de pandemia mundial é boa ou é ruim para a criação literária? Você se sente mais ou menos inspirada?

Este momento que vivenciamos, embora dramático, é de uma riqueza enorme para a criação literária, sem a menor sombra de dúvida.

Múltiplas facetas foram, acompanham e estão sendo desfraldadas vertiginosamente pela pandemia, causada pelo Corona Vírus. Outras tantas serão reveladas em todos os níveis, áreas e segmentos que afetam diretamente a humanidade.

Poetas e escritores disponibilizam de vasto e riquíssimo material, suficiente o bastante para registros em todas as vertentes literárias.

Poesias, crônicas, romances, contos, ensaios, novelas, elegias, odes, éctogas, sonetos, autos, tragédias, tragicomédias, farsa e até mesmo fábulas podem compor abordagens épicas, líricas e dramáticas ao calcar-se em vasto conteúdo, carregado de histórias reais ou nem tanto, situações, ações, reações, consequências e inconsequências.

Positividades e negatividades, impregnaram-se em todos os seres humanos, que compulsoriamente foram atingidos e impactados, dentro da casa materna; a terra.

Não é exagero afirmar que o globo terrestre está virado de cabeça para baixo em nossas mentes, tamanha as incertezas e angústias que persistem, como efeito desta causa, ainda desconhecida que, sorrateira e inadvertida, molesta corpos, mentes e espíritos.

Como um todo: Apesar da pandemia realçar incertezas, angústias e tristezas quando alguns se consideravam em caminho assertivo; outros nem tanto – sem ressalvas, a humanidade teve subtraída a sua zona de conforto. Aos sobreviventes, nada resta que agarrar-se, cada qual, à sua verdade, crença, valores, conhecimento e esclarecimento para adaptar-se, com urgência, à emergência em que nos vemos acometidos.

Resta explicitar que, apesar do infortúnio causado pelo Covid 19 e suas variantes ser maior, do que tudo o que toda a humanidade até agora vivenciou de maneira explícita e extremadamente traumática, não podemos ignorar que surgiram e realçaram-se novos “modus operandis” para se viver, onde a tecnologia da informação ocupa lugar primeiro e irreversível na esfera social, comercial e profissional afinal, embora ilhados em nossas residências, temos acesso à rápida e disponível comunicação, que possibilita os mais diversos e indispensáveis contatos, que atenuam variadas necessidades, mesmo com deficiências,  dificuldades e distante da realidade de um contingente de pessoas, que não dispõem de equipamentos e acessibilidade que possa lhes auxiliar na premência da subsistência.

Através da sensibilidade de poetas, escritores, artistas e historiadores, no futuro distante, as gerações vindouras irão tomar conhecimento, sobre a insólita aflição que dominou o planeta terra, na segunda década do século XXI, em que perdurou o terror iniciado oficialmente no início do ano 2020 e que até agora, ainda vivenciamos sem saber até quando.

Saberão eles, onde e como preponderou o bom senso e o absurdo.

Terão conhecimento sobre as batalhas travadas para vencer a pandemia; saberão que a ciência, cria do ser humano voltada à evolução e melhor conforto aos homens e mulheres da Terra, em muitos casos, envaidece pejorativamente os cientistas; continua a desencadear atrocidades comerciais quando da oferta ser menor que a demanda e que a humanidade em desespero, não se viu  contemplada em igualdade de tratamento e atenção, e pouco aprendeu com todo o sofrimento causado por duas guerras mundiais, pela gripe espanhola, pela queda das torres gêmeas e outros tantos calvários.

Talvez percebam, que muito pouco adianta possuir maior disponibilidade econômica e social - a pandemia provou ser capaz de vencer o poder, ao colocar todos, frente à  ameaça mortal.  

Receberão exemplos de solidariedade e de egoísmo; de demonstrações aviltantes de mau caratismo e abundantes de benevolência.

Quem sabe, venham a entender que nem sempre somos fagulhas, com poder de chama e que nosso tempo é o percurso entre faíscas repentinas: a primeira, acesa, é vida; a segunda, ao se apagar, é morte. Entre as duas, nossas escolhas, por vezes, arrogantes e  absolutas...basta um vírus, para tudo mudar.

Será que mudará?

 


Fale de seus projetos para 2021.

2021 está sendo ano de dilema: passa o ano ou passo eu?

A sensação angustiante causada pelas incertezas dá a impressão de uma quase total inatividade, que assusta.

Vejo o tempo passar pela minha janela e com ele o meu tempo de viver, que parece roubado pelo impedimento do ir e vir, do estar junto com  familiares e amigos.

A rotina do ontem, muitas vezes e antes da pandemia, reclamada como enjoativa e estressante, parece mais distante do que realmente é, e desperta uma saudade imensa. 

Saudade do oi e do tchau.

Saudade dos sorrisos não velados e dos olhares menos nublados – lágrimas vertem a dor das perdas de entes queridos, amigos e conhecidos; até dos conhecidos dos amigos, parentes, familiares e colegas. Molham e salgam faces, que atrás das máscaras imprescindíveis, parecem cravar o cortejo no impossível adeus.

O peso mostra-se infinitamente maior. Entorpece a mente e faz desobedecer, o corpo; paralisa mãos que realizam e pensares...muitos pensares.

Para não cair no ostracismo, escrever, ler, ouvir música tem sido escudo protetor.

As redes sociais, contribuem em muito, para manter os contatos e as plataformas possibilitam as reuniões de trabalho.

Alguns projetos sendo esboçados, outros parecem enclausurados, como eu; como nós.

A cura inconclusiva para o vírus e a  indefinição de prazo para o ir e vir ainda não permite, pelo menos a mim, projeto a longo prazo.

Estamos próximos do segundo semestre, do ano zerado, na quase totalidade da minha agenda.

Quero me dedicar mais ao meu Portal: www.semeartecultura.com.br.

Ano passado e primeiro semestre deste tinha objetivos concretos, mas fui obrigada a postergá-los.

Estou a encubar idéias, rabiscar perspectivas e a dar vazão aos muitos sentimentos, redescobertas e descobertas que expresso na poesia e em algumas habilidades que despontam, por enquanto, descompromissadas, mas exteriorizam minhas emoções – trazem alívio quando encontro-me em sofreguidão.

Principal e constantemente, escrever novas poesias, revisitar as escritas e selecioná-las para o meu primeiro livro solo.

Mais que isto me parece, ainda, imponderável diante da não concretude do que está por vir.

Que, a partir de agora, seja breve, muito breve, o tempo deste não sei, que impede planos com data marcada.


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