Isabel Furini entrevista a poeta Adélia Maria Woellner

 

    Fotos: arquivo pessoal da autora


         Nossa entrevistada é a poeta Adélia Maria Woellner. Ela nasceu em Curitiba (PR), no dia 20 de junho de 1940. Formou-se em Direito, pela Universidade Federal do Paraná, em 1972, quando foi premiada com quatro medalhas, inclusive a de ouro, por haver obtido o 1º lugar no curso jurídico noturno. Foi professora (Direito Penal-PUC-PR) e funcionária da Rede Ferroviária Federal-Regional de Curitiba, onde exerceu funções de relevância.

Pertence à Academia Paranaense de Letras (Cadeira nº 15); ao Centro de Letras do Paraná (presidente, biênio 98-99); além de a várias outras entidades lítero-culturais.

Seu nome é verbete em dicionários e enciclopédias. Recebeu inúmeros prêmios e homenagens. Sua obra foi objeto análises e de dissertação de mestrado.

Idealizou, organizou, coordenou e editou o livro Infinita Sinfonia, de Helena Kolody.

Publicou mais de vinte títulos, entre: poemas, crônicas, ensaio, pesquisa e literatura infantil.

 

Vamos conhecer um pouco da trajetória desta destacada poeta curitibana.

 

“Declamando, sinto que posso manifestar, com mais ênfase, o que o poema expressa. Vejo e lamento quando alguém não sabe ler, interpretar adequadamente um poema, ou texto. A leitura, sem envolvimento emocional, sem entonação adequada, acaba destruindo o conteúdo do texto. E isso acontece, inclusive, com o próprio autor.”

Adélia Maria Woellner - poeta  

Quando iniciou o seu interesse pela Poesia?

        No tempo de escola, quando frequentava o então Ginásio (1951 ou 1952). Uma colega, Maria da Luz, pediu permissão ao professor de Latim (Frei Jerônimo) para ler um poema que havia feito. Sentava ao lado dela. Fiquei encantada com o que ouvi. No intervalo, perguntei a ela se, realmente, ela é quem havia escrito. Disse que sim, que era um soneto. Perguntei, então: “como se faz” e ela, com muita simplicidade, respondeu, batendo de ombros: “fazendo, ora...”. Bem, se era assim, comecei a escrever.

 

Sente na sua obra a influência de algum ou alguns poetas?

        No início, não, porque naquele tempo não tínhamos a facilidade de manusear livros, muito menos de poesia. As professoras de Português é que selecionavam material para as aulas, escreviam os textos no quadro e nós copiávamos. Normalmente, claro, eram os clássicos: “Ai que saudades que eu tenho, da aurora da minha vida...”. Mais tarde, já adulta, conheci diversos autores. Muito depois, já tendo tido a ousadia de publicar o primeiro livrinho, Balada do Amor que se Foi, em 1963, descobri as entidades culturais e conheci Helena Kolody, Graciette Salmon, Vasco José Taborda, Pompília Lopes dos Santos... Acredito que usufruí do conhecimento e experiência de todos.

 

Qual é a reação dos leitores? Eles elogiam? Enviam sugestões?

Tenho tido a felicidade de ouvir manifestação de muitos leitores e, inclusive, escritores. Guardo muitos comentários valiosos, que me estimulam. Até já me surpreendi ao receber contato de alunos de universidades, pretendendo elaborar trabalhos sobre a minha obra. A Profª Neumar Carta Winter, que foi Presidente do Centro de Letras do Paraná, até escreveu um livro, incluindo análise maravilhosa sobre meus poemas. No final, coloco detalhes sobre essas pesquisas.

Sugestões? Lembro que, certa vez, apresentada ao poeta/trovador Apolo Taborda França, que havia recebido alguns poemas meus, pelas mãos de um colega de trabalho, me sugeriu que não me prendesse aos poemas clássicos, aos sonetos (eu era péssima, na metrificação...) e que lesse mais poetas da linha dita “poesia moderna, de versos livres”. Eu nem sabia o que era. Mas descobri que era bem melhor me libertar de regras rígidas, pelo que eu tinha pouca habilidade e competência. Mais tarde, até consegui escrever um ou outro soneto, algumas trovas, mas me identifico, mesmo, é com o poema livre.

 


Segundo a sua percepção esta época de pandemia mundial é boa ou é ruim para a criação literária? Você se sente mais ou menos inspirado?

        Não sei se é a pandemia ou minha idade. Lembro que, certa vez, Helena Kolody me disse que com a idade parece que a inspiração vai “apagando, murchando”. Não lembro, agora, qual poeta, de renome nacional, disse a mesma coisa, em uma entrevista. Tenho escrito muito pouco; quase nada de poemas... Claro que a pandemia contribui, porque a gente fica, parece, meio alienada, com a falta de atividade. Estou em casa, sem atividade externa, há mais de um ano. Isso entorpece, me limita. E sem considerar a idade... Espero que, voltando às atividades, minha inspiração ressuscite!

 

Fale um pouco de seus livros para crianças.

        Pois é... as histórias para crianças nasceram praticamente por acaso. Veio o primeiro, Férias no Sítio (um poema que fiz quando escrevia o livro sobre meus antepassados, “Para Onde Vão as Andorinhas”). Falava sobre as férias no sítio de meu avô, em Araucária, e nasceu o poema. Um amigo, lendo, me disse: “isso daria uma história para crianças”. Resultado: dias depois, com a visita de meu sobrinho, falei sobre a sugestão e sobre a dificuldade, já que haveria necessidade de um ilustrador. Ele então me disse que o filho, Raphael, desenhava muito bem... Me assustei. Ele tinha apenas 8 anos... Todo pai acha que o filho é muito bom... Enfim, dei a ele algumas folhas de papel, um lápis (comum) e borracha (que não usou). Pegou o poema e foi fazendo seus desenhos. Resultado: nasceu o Férias no Sítio. Aberta a porta, outros vieram. O segundo, foi “A Menina que Morava no Arco-Íris”, com, inclusive, adaptação para teatro de bonecos, pela Almazen Teatro de Bonecos, que levou a peça para muitos municípios do Paraná e para outros Estados. Ainda em 2018, editei o livro “A Montanha dos Encantos”. Mas tive que parar com o trabalho nas escolas, em razão da pandemia.

 


Adélia, você gosta de interpretar poemas? Como se sente declamando?

        Gosto, sim. Tive uma professora, no tempo da escola primária, D. Hermínia, que estimulava e ensinava, com detalhes, como fazer a leitura de textos ou poemas. E acho que ela gostava de me ver declamar, porque, seguidamente, me escalava para a leitura em sala de aula.

        Declamando, sinto que posso manifestar, com mais ênfase, o que o poema expressa. Vejo e lamento quando alguém não sabe ler, interpretar adequadamente um poema, ou texto. A leitura, sem envolvimento emocional, sem entonação adequada, acaba destruindo o conteúdo do texto. E isso acontece, inclusive, com o próprio autor.

 

Você já publicou livros de poesia. Qual é o mais elogiado?

        Acho que foi o “Infinito em Mim”, que, inclusive, teve parte dos poemas traduzida para o Italiano e foi editado em Pisa, Itália. A apresentação do livro ficou linda, muito delicada, com uma capa toda branca... Também, o professor de Francês, Roberto Vailatti, na época, me disse que já havia feito muitas traduções de poemas, do Francês para o Português, mas que tinha a expectativa de fazer de Português para o Francês. Leu o livro, gostou e fez a tradução, gentilmente.

 

Muitos de seus poemas não tem título… pode esclarecer porque escolheu publicar poemas sem títulos. Você acha que o título é supérfluo?

        Há uma única razão: tenho muita dificuldade para nomear os poemas. Tento, insisto, e não consigo. Então, acabo desistindo e o poema fica sem “identidade”. Há títulos que são repetidos... Acho os títulos muito importantes. Vezes há que fazem parte do poema. Nessas situações, sempre lembro da Helena Kolody, que tinha uma criatividade e precisão ao nomear seus poemas. Veja que, na obra dela, não há repetições...

 

Se você fosse obrigada a escolher um poema de sua autoria que represente o seu estilo, a sua voz poética, qual escolheria? (Escrever o poema na continuação).

Agora você me fez pensar... e acho que não tenho um estilo que prevaleça. Um poema que gosto muito, onde eu digo o que sinto e que ele, o poema, me diz o efeito da poesia, é o que reproduzo:


                          PRECE
 
                        
                        Eu queria cantar o mundo, com voz bem afinada,
                        e fazer ressoar meu canto
                        em cada canto,
                        em cada estrada.
 
                        Eu queria tocar qualquer instrumento,
                        que vertesse som,
                        que fluísse música com harmonia
                        e fazer cada corpo vibrar
                        ao compasso da minha melodia.
               
                        Eu queria ser pintor,
                        espalhar cores, muitas cores,
                        manchar telas com habilidade,
                        retratar a natureza, os sentimentos,
                        alegrar olhos e almas
                        e transmitir paz, serenidade.
       
                        Eu pedi a Deus tudo isso,
                        pois queria enternecer corações,
                        encher a vida de alegria,
                        colorir  pensamentos
                        e despertar  emoções...
 
                        Antes mesmo de nascer,
                        eu pedi para ser esteta...
                        Ah! como eu pedi a Deus!...
                        Pedi tanto, tanto,
                        que Deus me fez poeta.
 

                        Adélia Maria Woellner

 

Quais são os projetos para o segundo semestre de 2021?

                Caso seja possível alguma atividade externa (porque estou, desde o início da pandemia, limitada aos trabalhos em casa - afinal, já estou com 81 anos e não posso facilitar), pretendo retomar as visitas a escolas, conversar com as crianças, procurar incentivá-las a fazer viagens oníricas, pela leitura das histórias infantis. Estou com um livro editado (A Montanha dos Encantos), que está parado, aguardando essa possibilidade. É minha vontade visitar escolas de pequenos municípios, que dificilmente recebem a visita de autores. E as crianças só conhecem os nomes nas capas dos livros; sequer imaginam que somos, também, “de carne e osso”, que somos pessoas “normais”. É disso que tenho sentido falta. Caso não seja possível para este ano, eis que as escolas precisarão de algum tempo para voltar à rotina, espero que em 2022 isto se realize.

 

 

      Adélia Maria Woellner e a escritora Isabel Furini


Bibliografia

 

Sob o título “Tempo e Memória na Lírica de Adélia Maria Woellner”, sua obra foi objeto da dissertação de mestrado pela Profª Clarice Braatz Schmidt Neukirchen, no curso de Pós Graduação Stricto Sensu em Letras, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Cascavel, Paraná, 2006).

Sob o tema Escrita de Mulheres e a (Des)construção do Cânone Literário na Pós-modernidade: Cenas Paranaenses, a professora Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira, da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Guarapuava, Paraná, incluiu a análise do livro Luzes no Espelho, na pesquisa de pós-doutorado, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência da Literatura, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.

Sua produção poética foi objeto de análise pela Profª Neumar Carta Winter, publicada no livro “Estudos Literários”, Juruá Editora, Curitiba, 2011.

Como decorrência do trabalho “Adélia Maria Woellner: Memória e Vivência – Recordações”, apresentado em sala de aula, o Prof. Lucas Schenoveber dos Santos Júnior (Unioeste-Foz do Iguaçu), pretendeu ir além e, para trabalhar o ensino da literatura, em seu estágio, e sob orientação da Profª Drª. Martha Ribeiro Parahyba, criou um jogo pedagógico de dados, que consiste em percorrer o caminho de casas, que contêm poemas/trovas e execução de alguma tarefa (por ex. ler em voz alta), pelo participante, com o objetivo de trabalhar literatura em sala de aula (maio, 2010);

As professoras Rosângela Padilha e Ângela Lúcia Delfrazio Silva realizaram o projeto “Germinando Leitores - Adélia Maria Woellner” na biblioteca da Escola Municipal Gov. Leonel Brizola, como parte das disciplinas afins, objetivando o desenvolvimento cultural do indivíduo, incentivando as pessoas para a leitura, explorando, especialmente, os livros “A menina que morava no arco-íris” e “Festa na Cozinha - bom apetite...” (Curitiba, 2012);

Sob o título “Adélia Maria Woellner: poesia, jogo e linguagem”, a professora Ione Aparecida Peruzzo (UNIOESTE), com orientação do Prof. Dr. Antonio Donizeti da Cruz, elaborou o trabalho “Os desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE”. Volume I - Artigos; Volumev II - Produções Didático-Pedagógicas (2013);

A produção infantojuvenil foi objeto de análise pela professora Lourdes Kaminski Alves (da Universidade Estadual do Oeste do Paraná-UNIOESTE/Cascavel), no artigo “A Produção infantojuvenil em Adélia Maria Woellner: da Ética à Estética”, publicado no livro “Produção Cultural Paranaense para Crianças e Jovens”, organizado pelos professores Alice Áurea Penteado Martha e Thiago Alves Valente (pág. 115 a 130), 2016, Associação Núcleo Editorial Proleitura (ANEP) – Paraná.



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