Fotos: arquivo pessoal da autora
Nossa entrevistada é a poeta Adélia Maria
Woellner. Ela nasceu em Curitiba (PR), no dia 20 de junho de 1940. Formou-se em
Direito, pela Universidade Federal do Paraná, em 1972, quando foi premiada com
quatro medalhas, inclusive a de ouro, por haver obtido o 1º lugar no curso
jurídico noturno. Foi professora (Direito Penal-PUC-PR) e funcionária da Rede
Ferroviária Federal-Regional de Curitiba, onde exerceu funções de relevância.
Pertence à Academia Paranaense de Letras
(Cadeira nº 15); ao Centro de Letras do Paraná (presidente, biênio 98-99); além
de a várias outras entidades lítero-culturais.
Seu nome é verbete em dicionários e
enciclopédias. Recebeu inúmeros prêmios e homenagens. Sua obra foi objeto
análises e de dissertação de mestrado.
Idealizou, organizou, coordenou e editou o
livro Infinita Sinfonia, de Helena Kolody.
Publicou mais de vinte títulos, entre:
poemas, crônicas, ensaio, pesquisa e literatura infantil.
Vamos conhecer um pouco da trajetória desta
destacada poeta curitibana.
“Declamando, sinto que posso manifestar, com mais ênfase, o que o poema expressa. Vejo e lamento quando alguém não sabe ler, interpretar adequadamente um poema, ou texto. A leitura, sem envolvimento emocional, sem entonação adequada, acaba destruindo o conteúdo do texto. E isso acontece, inclusive, com o próprio autor.”
Adélia Maria Woellner - poeta
Quando
iniciou o seu interesse pela Poesia?
No
tempo de escola, quando frequentava o então Ginásio (1951 ou 1952). Uma colega,
Maria da Luz, pediu permissão ao professor de Latim (Frei Jerônimo) para ler um
poema que havia feito. Sentava ao lado dela. Fiquei encantada com o que ouvi.
No intervalo, perguntei a ela se, realmente, ela é quem havia escrito. Disse
que sim, que era um soneto. Perguntei, então: “como se faz” e ela, com muita
simplicidade, respondeu, batendo de ombros: “fazendo, ora...”. Bem, se era
assim, comecei a escrever.
Sente
na sua obra a influência de algum ou alguns poetas?
No
início, não, porque naquele tempo não tínhamos a facilidade de manusear livros,
muito menos de poesia. As professoras de Português é que selecionavam material
para as aulas, escreviam os textos no quadro e nós copiávamos. Normalmente,
claro, eram os clássicos: “Ai que saudades que eu tenho, da aurora da minha
vida...”. Mais tarde, já adulta, conheci diversos autores. Muito depois, já
tendo tido a ousadia de publicar o primeiro livrinho, Balada do Amor que se
Foi, em 1963, descobri as entidades culturais e conheci Helena Kolody,
Graciette Salmon, Vasco José Taborda, Pompília Lopes dos Santos... Acredito que
usufruí do conhecimento e experiência de todos.
Qual é
a reação dos leitores? Eles elogiam? Enviam sugestões?
Tenho tido a felicidade de ouvir manifestação
de muitos leitores e, inclusive, escritores. Guardo muitos comentários
valiosos, que me estimulam. Até já me surpreendi ao receber contato de alunos
de universidades, pretendendo elaborar trabalhos sobre a minha obra. A Profª
Neumar Carta Winter, que foi Presidente do Centro de Letras do Paraná, até
escreveu um livro, incluindo análise maravilhosa sobre meus poemas. No final,
coloco detalhes sobre essas pesquisas.
Sugestões? Lembro que, certa vez, apresentada
ao poeta/trovador Apolo Taborda França, que havia recebido alguns poemas meus,
pelas mãos de um colega de trabalho, me sugeriu que não me prendesse aos poemas
clássicos, aos sonetos (eu era péssima, na metrificação...) e que lesse mais
poetas da linha dita “poesia moderna, de versos livres”. Eu nem sabia o que
era. Mas descobri que era bem melhor me libertar de regras rígidas, pelo que eu
tinha pouca habilidade e competência. Mais tarde, até consegui escrever um ou
outro soneto, algumas trovas, mas me identifico, mesmo, é com o poema livre.
Segundo
a sua percepção esta época de pandemia mundial é boa ou é ruim para a criação
literária? Você se sente mais ou menos inspirado?
Não
sei se é a pandemia ou minha idade. Lembro que, certa vez, Helena Kolody me
disse que com a idade parece que a inspiração vai “apagando, murchando”. Não
lembro, agora, qual poeta, de renome nacional, disse a mesma coisa, em uma
entrevista. Tenho escrito muito pouco; quase nada de poemas... Claro que a
pandemia contribui, porque a gente fica, parece, meio alienada, com a falta de
atividade. Estou em casa, sem atividade externa, há mais de um ano. Isso
entorpece, me limita. E sem considerar a idade... Espero que, voltando às
atividades, minha inspiração ressuscite!
Fale um
pouco de seus livros para crianças.
Pois
é... as histórias para crianças nasceram praticamente por acaso. Veio o
primeiro, Férias no Sítio (um poema que fiz quando escrevia o livro sobre meus
antepassados, “Para Onde Vão as Andorinhas”). Falava sobre as férias no sítio
de meu avô, em Araucária, e nasceu o poema. Um amigo, lendo, me disse: “isso
daria uma história para crianças”. Resultado: dias depois, com a visita de meu
sobrinho, falei sobre a sugestão e sobre a dificuldade, já que haveria
necessidade de um ilustrador. Ele então me disse que o filho, Raphael,
desenhava muito bem... Me assustei. Ele tinha apenas 8 anos... Todo pai acha
que o filho é muito bom... Enfim, dei a ele algumas folhas de papel, um lápis
(comum) e borracha (que não usou). Pegou o poema e foi fazendo seus desenhos.
Resultado: nasceu o Férias no Sítio. Aberta a porta, outros vieram. O segundo,
foi “A Menina que Morava no Arco-Íris”, com, inclusive, adaptação para teatro
de bonecos, pela Almazen Teatro de Bonecos, que levou a peça para muitos
municípios do Paraná e para outros Estados. Ainda em 2018, editei o livro “A
Montanha dos Encantos”. Mas tive que parar com o trabalho nas escolas, em razão
da pandemia.
Adélia,
você gosta de interpretar poemas? Como se sente declamando?
Gosto,
sim. Tive uma professora, no tempo da escola primária, D. Hermínia, que
estimulava e ensinava, com detalhes, como fazer a leitura de textos ou poemas.
E acho que ela gostava de me ver declamar, porque, seguidamente, me escalava
para a leitura em sala de aula.
Declamando,
sinto que posso manifestar, com mais ênfase, o que o poema expressa. Vejo e
lamento quando alguém não sabe ler, interpretar adequadamente um poema, ou
texto. A leitura, sem envolvimento emocional, sem entonação adequada, acaba
destruindo o conteúdo do texto. E isso acontece, inclusive, com o próprio
autor.
Você já
publicou livros de poesia. Qual é o mais elogiado?
Acho
que foi o “Infinito em Mim”, que, inclusive, teve parte dos poemas traduzida
para o Italiano e foi editado em Pisa, Itália. A apresentação do livro ficou
linda, muito delicada, com uma capa toda branca... Também, o professor de
Francês, Roberto Vailatti, na época, me disse que já havia feito muitas
traduções de poemas, do Francês para o Português, mas que tinha a expectativa
de fazer de Português para o Francês. Leu o livro, gostou e fez a tradução,
gentilmente.
Muitos
de seus poemas não tem título… pode esclarecer porque escolheu publicar poemas
sem títulos. Você acha que o título é supérfluo?
Há
uma única razão: tenho muita dificuldade para nomear os poemas. Tento, insisto,
e não consigo. Então, acabo desistindo e o poema fica sem “identidade”. Há
títulos que são repetidos... Acho os títulos muito importantes. Vezes há que
fazem parte do poema. Nessas situações, sempre lembro da Helena Kolody, que
tinha uma criatividade e precisão ao nomear seus poemas. Veja que, na obra
dela, não há repetições...
Se você
fosse obrigada a escolher um poema de sua autoria que represente o seu estilo,
a sua voz poética, qual escolheria? (Escrever o poema na continuação).
Agora você me fez pensar... e acho que não
tenho um estilo que prevaleça. Um poema que gosto muito, onde eu digo o que
sinto e que ele, o poema, me diz o efeito da poesia, é o que reproduzo:
Adélia Maria Woellner
Quais
são os projetos para o segundo semestre de 2021?
Caso
seja possível alguma atividade externa (porque estou, desde o início da
pandemia, limitada aos trabalhos em casa - afinal, já estou com 81 anos e não
posso facilitar), pretendo retomar as visitas a escolas, conversar com as
crianças, procurar incentivá-las a fazer viagens oníricas, pela leitura das
histórias infantis. Estou com um livro editado (A Montanha dos Encantos), que
está parado, aguardando essa possibilidade. É minha vontade visitar escolas de
pequenos municípios, que dificilmente recebem a visita de autores. E as
crianças só conhecem os nomes nas capas dos livros; sequer imaginam que somos,
também, “de carne e osso”, que somos pessoas “normais”. É disso que tenho
sentido falta. Caso não seja possível para este ano, eis que as escolas
precisarão de algum tempo para voltar à rotina, espero que em 2022 isto se
realize.
Bibliografia
Sob o título “Tempo e Memória na Lírica de
Adélia Maria Woellner”, sua obra foi objeto da dissertação de mestrado pela
Profª Clarice Braatz Schmidt Neukirchen, no curso de Pós Graduação Stricto
Sensu em Letras, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Cascavel, Paraná,
2006).
Sob o tema Escrita de Mulheres e a
(Des)construção do Cânone Literário na Pós-modernidade: Cenas Paranaenses, a
professora Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira, da Universidade Estadual do
Centro-Oeste – UNICENTRO, Guarapuava, Paraná, incluiu a análise do livro Luzes
no Espelho, na pesquisa de pós-doutorado, apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ciência da Literatura, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 2007.
Sua produção poética foi objeto de análise
pela Profª Neumar Carta Winter, publicada no livro “Estudos Literários”, Juruá
Editora, Curitiba, 2011.
Como decorrência do trabalho “Adélia Maria
Woellner: Memória e Vivência – Recordações”, apresentado em sala de aula, o
Prof. Lucas Schenoveber dos Santos Júnior (Unioeste-Foz do Iguaçu), pretendeu
ir além e, para trabalhar o ensino da literatura, em seu estágio, e sob
orientação da Profª Drª. Martha Ribeiro Parahyba, criou um jogo pedagógico de
dados, que consiste em percorrer o caminho de casas, que contêm poemas/trovas e
execução de alguma tarefa (por ex. ler em voz alta), pelo participante, com o
objetivo de trabalhar literatura em sala de aula (maio, 2010);
As professoras Rosângela Padilha e Ângela
Lúcia Delfrazio Silva realizaram o projeto “Germinando Leitores - Adélia Maria
Woellner” na biblioteca da Escola Municipal Gov. Leonel Brizola, como parte das
disciplinas afins, objetivando o desenvolvimento cultural do indivíduo,
incentivando as pessoas para a leitura, explorando, especialmente, os livros “A
menina que morava no arco-íris” e “Festa na Cozinha - bom apetite...”
(Curitiba, 2012);
Sob o título “Adélia Maria Woellner: poesia,
jogo e linguagem”, a professora Ione Aparecida Peruzzo (UNIOESTE), com
orientação do Prof. Dr. Antonio Donizeti da Cruz, elaborou o trabalho “Os
desafios da Escola Pública Paranaense na Perspectiva do Professor PDE”. Volume
I - Artigos; Volumev II - Produções Didático-Pedagógicas (2013);
A produção infantojuvenil foi objeto de
análise pela professora Lourdes Kaminski Alves (da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná-UNIOESTE/Cascavel), no artigo “A Produção infantojuvenil em
Adélia Maria Woellner: da Ética à Estética”, publicado no livro “Produção
Cultural Paranaense para Crianças e Jovens”, organizado pelos professores Alice
Áurea Penteado Martha e Thiago Alves Valente (pág. 115 a 130), 2016, Associação
Núcleo Editorial Proleitura (ANEP) – Paraná.
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