Isabel Furini entrevista a advogada e escritora Priscila Prado

 

    Fotos: arquivo pessoal da autora



“Tem poema que nasce pronto – e não pede nem admite reparo. Tem poema que é lapidado, moldado, montado... – e que, às vezes, leva muito tempo para ficar pronto.”


             Nossa entrevistada é a poeta, escritora e advogada Priscila Prado. Carioca de nascimento, a escritora tem formação acadêmica em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Apaixonou-se pelo exercício do saber jurídico, porém, nunca se afastou do amor pela escrita que adquiriu desde criança. No ano 2000 desligou-se definitivamente das atividades profissionais como advogada da Caixa Econômica Federal, dedicando-se integralmente à poesia a partir daí. Para Priscila não há como evitar a poesia e a escrita, porque elas sempre a encontram e acabam por povoar completamente seu mundo.

 Foi finalista do Prêmio Jabuti 2013 com o livro intitulado ‘Preguiça, coragem e outros bichos’ (Curitiba: edição própria, 2012). Além desse, já publicou outros quatro livros de poesia: ‘A qualquer momento agora’ (Curitiba: edição própria, 2005), ‘No olho do paradoxo’ (Curitiba: Insight, 2015), ‘Alas, pétalas & labaredas (Curitiba: Coletivo Marianas, 2016) e ‘Encontros desconcertantes’ (Curitiba: Insight, 2018).


“Meu processo criativo é muito variado. Às vezes é o impacto da beleza, da dor, a emergência de um sentimento que exige registro.” 


Quando começou a escrever poesia? Fale um pouco de seu início no mundo das letras e de sua trajetória.

Escrever escrevi desde que me conheço por gente. Um desejo de expressão, de ficção, de comunicação dentro do universo dos livros – uma espécie de realidade paralela. O 1º poema publicado eu tinha cerca de 10 anos de idade: foi na Gazeta do Povo, jornal de Curitiba, na coluna de um amigo da família. Depois, durante muito tempo, embora eu sempre tenha continuado escrevendo, a publicação em livro permaneceu apenas como um sonho de infância – enquanto fiz faculdade de direito, concurso público, casei, fui mãe, advogada da Caixa,... A partir de 2005, com a edição independente de meu 1º livro, A Qualquer Momento Agora, assumi definitivamente a literatura. 

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Como é o seu processo criativo?

Meu processo criativo é muito variado. Às vezes é o impacto da beleza, da dor, a emergência de um sentimento que exige registro. Ou um acontecimento – seja da ordem do íntimo ou do político (no sentido do social).  Às vezes é só pela graça de uma brincadeira com as palavras. Já aconteceu até poema de encomenda.

Tem poema que nasce pronto – e não pede nem admite reparo. Tem poema que é lapidado, moldado, montado,... – e que, às vezes, leva muito tempo para ficar pronto.


Como você enxerga o trabalho poético neste momento de quarentena?

O trabalho poético é sempre. É um estado inerente e necessário do ser humano. Claro que momentos de intensa crise impõe ainda mais urgência à poesia. A quarentena, ao mesmo tempo em que proporcionou recolhimento e introspecção – também provocou um excesso de informações, de interação, por conta dos recursos tecnológicos de comunicação – está sendo uma forma peculiar de desafio e oportunidade ao trabalho poético.

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Fale de seu novo livro.

O novo livro está com lançamento marcado para 22 setembro. Como o lançamento será online, a editora está fazendo a pré-venda através do financiamento coletivo (https://bit.ly/livrootsus) – que é uma forma de divulgação e também de engajamento do público na própria edição.

Há alguns anos fui acometida por um sentimento que já se repetiu algumas vezes...Como todo sentimento, tenho certeza que acontece a toda a gente – mas não consegui encontrar um nome para ele. Então, precisei inventar: Otsus. É o nome do novo livro e de um dos poemas – que tenta registrar esse sentimento tão avassalador. Otsus – poemas e interjeições : porque, se nem todos forem poemas, serão, por certo, interjeições ante o que se nos apresenta no dia a dia. Todos os poemas de Otsus são inéditos em livro e, a maioria, poemas recentes.

Sente a influência de alguns poetas na sua obra?

Tenho certeza que há influência – é inevitável sermos influenciados por tudo o que vivemos, experienciamos, lemos. Mas não sou capaz de eu mesma identificar alguma influência específica.

 

Como analisa a sua própria obra. Fale de seu estilo e de sua voz poética

Difícil dizer... deixo a análise por conta do leitor.


Sobre os títulos de seus livros e poemas: Você escolhe alguma palavra do poema ou do livro, procura inspiração em outros textos ou os títulos surgem na sua cabeça?

Aqui também o processo é muito variado. O título às vezes é uma síntese, às vezes é uma antítese, um questionamento, uma ruptura, um toque de humor, ... Tem poema que já nasce com título – outros, não precisam nem admitem título. Um aspecto interessante que já vem de outros de meus livros: o título nem sempre está no começo – pode estar no fim ou em outras partes ao longo do poema.

Quanto aos títulos dos livros, algumas curiosidades: Alas, Pétalas & Labaredas foi, antes, título de uma escultura de argila e de uma acrílica sobre tela – incursões diletantes feitas em outras artes - para, então, ser título do livro editado pelo Coletivo Marianas. Já o livro de poemas e fotos, Encontros Desconcertantes, é título que me acompanhou desde a adolescência: foi o primeiro livro sonhado e o quinto concretizado. Também acontece de o livro ter o mesmo título de um dos poemas – alguma ideia central que eu gostaria de transmitir mais intensamente: é o caso de No Olho do Paradoxo e de Otsus, o mais recente.

 

Você participa de coletâneas e antologias? Qual é a sua vivência? Aconselha participar de trabalhos coletivos?

Sim – participei, participo e aconselho. São experiências muito dinâmicas e enriquecedoras na interação com a diversidade de outros autores, particularmente quando há um tema de interesse comum dos participantes.

 

Nesta época muitas pessoas escrevem poemas. Você pensa que essa    explosão poética elevará a poesia ou a banalizará?

Penso que ambas as coisas tendem a acontecer – como já tem sido em outros períodos da história: havendo grande quantidade de produção, proporcionalmente tende a aumentar tanto o aparecimento de obras de qualidade quanto o de obras banais.  


Fale de seus projetos para o segundo semestre de 2021.

Para este semestre em curso, além de engajada com o lançamento de Otsus – poemas e interjeições -, estou comprometida com meu projeto de Mestrado na UTFPR, que avançará por 2022. Também para 2.022 está previsto o lançamento do próximo infantil, já aprovado pela Lei de Incentivo Municipal, Uma Rua de Todas as Cores.


 

 

 

 

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