Saiba como é feita a reconstrução mamária após a mastectomia
A empresária Eliane de Sousa Canedo Marino, de 54 anos,
estava disposta a fazer uma cirurgia plástica estética, em 2015. Mas, quando
fez os exames pré-operatórios, foi detectado um tumor na mama esquerda.
“Eu já vinha sentindo umas dores, mas não tinha detectado
nada, então foi muito difícil no início, foi uma surpresa, ao mesmo tempo foi
assim, um pavor, um medo mas, como eu sou uma pessoa muito católica, eu sempre
entreguei a Nossa Senhora e a Deus tudo que tinha para acontecer”, conta Eliane.
Eliane de Sousa Canedo Marino fez uma cirurgia de
reconstrução mamária após tumor na mama esquerda.
Eliane
de Sousa Canedo Marino fez uma cirurgia de reconstrução mamária após tumor na
mama esquerda - Reprodução/ Arquivo pessoal
Por causa do tumor, ela passou pelo processo de
mastectomia total, quando a mama é totalmente removida. Mas o pior veio depois
da cirurgia: “uma semana depois da cirurgia tive infecção hospitalar, aí
começou a dificuldade porque eu sentia muito dor, muito medo, fiz todas as medicações,
tudo que o médico indicou para fazer, mas foi muito difícil porque eu estava em
outra cidade, longe do meu filho, da minha casa, do meu marido, da família mas,
sempre muito confiante em Deus. E também durante o tratamento eu fiz
quimioterapia e radioterapia”.
O tratamento aconteceu entre 2015 e 2016, com altos e
baixos, relata a empresária. “Foi um ano e pouco de tratamento. Ao mesmo tempo
em que eu tinha segurança, depois me dava medo, mas fui forte e venci. Tive a
infecção hospitalar e depois de um ano ela ficou alojada no meu organismo, e
não se alastrou, não caiu na minha corrente sanguínea. Eu falo que eu sou um
milagre vivo. Porque sentia dores há muito tempo e não foi detectado o câncer”.
Passados quatro anos da cura do câncer, ela então decidiu
fazer a reconstrução mamária, no ano passado. “Eu não queria fazer a
reconstrução porque eu tinha medo, porque foi muito doloroso o tratamento. Mas
Deus colocou o doutor Luís na minha vida, e deu tudo certo, fiz a reconstrução,
fiquei muito feliz, realizada e só tenho a agradecer a Deus por tudo”,
comemora.
O médico que atendeu a Eliane é o cirurgião plástico Luís
Felipe Maatz, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP-SP e especialista em reconstrução
mamária pelo Hospital Sírio-Libanês, de São Paulo. A expectativa dele é de que
depois da pandemia, a taxa de pacientes que irão fazer a reconstrução mamária
deve aumentar.
“Em 2017 a taxa de pacientes submetidas a cirurgia para
câncer de mama que fizeram a reconstrução era de aproximadamente 34%. Não
possuímos dados oficiais, mas é bem provável que, com a pandemia de covid-19,
essa taxa tenha diminuído. Em 2022 esperamos que a taxa aumente e possamos
aumentar a cada ano”, afirmou.
Segundo o último Censo da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Plástica (SBCP), o percentual da taxa de reconstrução mamária (razão
de reconstruções pelo número total de mastectomias, multiplicados por 100, a
cada ano), que em 2008 foi de 14,9%, continuou estável até 2012; em 2014 era de
29,3%; e passou a aumentar a partir da implantação da lei de reconstrução
mamária, em 2013. Em 2017, aproximadamente 34% das mulheres realizaram a
reconstrução mamária.
Legislação
A lei de reconstrução mamária dispõe sobre a cirurgia
plástica reconstrutiva da mama em casos de mutilação decorrente de tratamento
de câncer. Ela determina que os procedimentos de simetria da mama e de
reconstrução do complexo aréolo-mamilar passam a ser considerados partes integrantes
da cirurgia plástica.
A lei estabelece ainda que, quando existirem condições
técnicas, a reconstrução da mama seja efetuada de forma imediata, ou seja, logo
após a mastectomia. Quando não for possível, a paciente será encaminhada para
acompanhamento e terá garantida a realização da cirurgia logo após alcançar as
condições clínicas exigidas.
Na opinião do cirurgião plástico Luís Felipe Maatz, mesmo
com a lei, o acesso às cirurgias reconstrutoras ainda é falho. “Sou totalmente
a favor do direito à reconstrução mamária concedido às pacientes pela lei.
Infelizmente o acesso à reconstrução pelo Sistema Único de Saúde ainda é
precário em muitas partes do Brasil. Há muitos cirurgiões plásticos que são
especialistas nessa área, mas o sistema público não possui uma estrutura
adequada para atender a todas as pacientes”.
Procedimento
A reconstrução mamária é realizada através de várias
técnicas para restaurar a mama, considerando forma, aparência e o tamanho; após
a mastectomia, que pode ser total ou parcial (quando apenas uma parte da mama é
removida).
“A mama é uma das principais marcas externas da
feminilidade, e a sua perda, parcial ou total, traz prejuízos na imagem
corporal e no psicológico. Quando o cirurgião plástico realiza a reconstrução
mamária, atua de maneira significativa na melhora da autoestima da mulher”,
opina Maatz, que também é membro da SBCP.
Segundo ele, a reconstrução envolve vários procedimentos
realizados em múltiplos estágios. Saiba como são as etapas, de acordo com as
normas da SBCP:
Etapa 1: medicamentos anestésicos são administrados para
o conforto da paciente durante o procedimento cirúrgico. As opções de anestesia
incluem sedação intravenosa e anestesia geral.
Etapa 2: utilização de técnicas de retalhos com músculo,
gordura e pele próprios da paciente para criar ou cobrir o local da mama. “Às
vezes, a mastectomia, ou o tratamento com radiação, podem deixar tecido
insuficiente na parede torácica para cobrir e sustentar o implante mamário. O
uso de implante mamário para reconstrução exige quase sempre uma ou demais
técnicas de retalho ou expansão de tecido”, explica o cirurgião.
O retalho TRAM (Retalho do Músculo Reto Abdominal) é a
técnica que usa tecidos do músculo, gordura ou pele do abdômen da paciente para
reconstruir a mama. O retalho pode permanecer com o suprimento sanguíneo
original, com a criação de um acesso para ser posicionado na caixa torácica ou
ser completamente separado para formar a nova mama.
Etapa 3: procedimento de expansão da pele saudável para
dar cobertura a um implante mamário. Nesta etapa, uma espécie de balão
esvaziado, chamado de expansor, é introduzido na região mamária e,
periodicamente enchido para expandir o tecido. A reconstrução com expansão do
tecido permite recuperação mais rápida que os procedimentos utilizando
retalhos. No entanto, é um processo de reconstrução mais demorado. “Este
procedimento requer muitos retornos ao consultório, por 4 a 6 meses, após a
colocação do expansor, para enchê-lo através de uma válvula interna e expandir
a pele. Um segundo procedimento cirúrgico será necessário para substituir o
expansor, que não é concebido para servir como implante permanente”, diz o
médico.
Tatuagem
para a reconstrução da aréola após mastectomia - divulgação do Projeto Y Rosa
Etapa 4: é feita a cirurgia de colocação do implante mamário. O implante pode ser um complemento ou uma alternativa para técnicas de retalhos. Implantes de silicone estão disponíveis para a reconstrução. O cirurgião irá ajudar a decidir qual alternativa é melhor para cada paciente. Reconstrução com implantes geralmente requerem expansão de tecido
Etapa 5: também existem diferentes técnicas para
reconstrução do mamilo e da aréola, que vão de enxertos à pigmentação local com
técnica de tatuagem.
Benefícios
Os resultados finais da reconstrução pós mastectomia
podem ajudar a minimizar o impacto físico e emocional da remoção da mama. Com o
tempo, a sensibilidade da região pode voltar, e as cicatrizes tendem a
melhorar, embora nunca desaparecerão completamente, pontua Maatz.
Há algumas limitações, mas a maioria das mulheres
considera que são pequenas em comparação à melhoria na qualidade de vida,
observa o cirurgião. “Monitoração cuidadosa da saúde da mama através do
autoexame, mamografia e demais técnicas de diagnóstico são essenciais para sua
saúde a longo prazo. Antes de decidir realizar a reconstrução mamária, é
fundamental buscar sempre um médico comprovadamente qualificado, experiente e
que seja membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica”, aconselha o
médico. (Fonte: Agência Brasil).
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