Isabel Furini entrevista o poeta e artista visual Luiz Arthur Montes Ribeiro

 



       Nosso entrevistado é Luiz Arthur Montes Ribeiro. Ele nasceu em Ponta Grossa (PR), em 1959. Mora e trabalha em Curitiba desde 1980. Na infância conheceu o mundo das Artes Visuais e da Literatura A partir de 1990, tornou-se profissional nessas áreas. Promoveu exposições individuais em várias cidades e museus brasileiros e, também, em Madri (Espanha), e Maputo (Moçambique). Seu primeiro livro foi publicado em 1992. Neste 2021 publicou seu décimo livro, sendo que Jardins Imaginários da minha solidão, (70p – 2017), foi publicado em português com tradução para o inglês, espanhol e francês. Corações Alados, (83p – 2021 - décimo livro), é em português com tradução para o espanhol. Foi premiado em concursos de artes e de literatura. Frequentou ateliês em espaços públicos e privados.  Exerceu a função de Curador Chefe no Espaço de Cultura Brasil-Espanha, e Curador Oficial no Espaço Cultural Brasil-Telecom.  É diretor do Instituto Montes Ribeiro e mantêm uma página na internet: www.luizarthur.com.br – Graduou-se em Letras Português/Inglês pela Universidade Tuiuti do Paraná. Aperfeiçoamento em Artes Plásticas pela Faculdade de Artes do Paraná e é Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná.”


"A poesia não tem finalidade de ser prática ou não. Ela nasce conosco, e por ela expressamos nossos sentimentos de amor, alegria, felicidade, angústia, raiva..."  

       

IF – Segundo a sua percepção, esta época de pandemia mundial é boa ou é ruim para a criação literária? Você se sente mais ou menos inspirado?

A situação em que vivemos favoreceu, em muito, a literatura, a criação e a disseminação do pensamento. Ao ficarmos reclusos neste longo período obtivemos mais tempo para pensar, agir, escrever e produzir nossos escritos, sejam eles em prosa ou verso. Não é nem bom, nem ruim. É o tempo em que vivemos. Nesta pandemia escrevi dois livros de poesias/poemas e um outro de contos. Inspiração e disponibilidade de tempo me inspiraram. Trabalhar foi o melhor que pude fazer nesse período.

 

IF – Quando iniciou o seu interesse pela escrita?

Desde muito cedo, já no primário. Muitas vezes optava por ler e escrever do que ir brincar com meus irmãos ou amigos. Sempre fui um ótimo aluno nas matérias, ditas, humanas. Por algum tempo escrevi para jornais. No ginásio tínhamos um jornal. A escrita me fascina, me entusiasma, me alegre e contribui para o meu viver.


  "Praticamente todos os sentidos são representados nesta forma de escrita. É pela poesia que podemos conhecer um poeta, uma vida, um bem-viver, (ou não)."


IF – Você é artista visual e poeta. Sente em suas obras poéticas e visuais a influência de algum ou algum mestre da Poesia ou da Pintura?

Não digo uma influência, (em minhas obras), mas uso bastante o amarelo e o azul em meus trabalhos plásticos (Portinari - Van Gogh). Na escrita, sigo os ensinamentos da Academia, meus instintos e meu pensar. Leio Augusto dos Anjos, Helena Kolody, Leminski, Cruz e Souza e Cora Coralina. Me inspiram a escrever e viver no mundo da literatura.

 

IF – Há pouco lançou um livro. Fale sobre esse livro.

“Corações Alados” (83p – 2021) foi escrito entre 2020 e 2021. Nele escrevo para várias pessoas, vários amores sintetizados em um curto período de tempo e espaço. Há poesias, poemas, escritos e cartas de amor. Os sentimentos, nele expressados são confissões, segredos (que não são mais), cumplicidades, certezas e incertezas já vividos. Com um tom de diário, às vezes erótico, me desnudo para o leitor. Todos nós temos momentos de corações alados. O livro é bilíngue: português/espanhol.

 

IF – Você gosta de interpretar poemas? Como se sente declamando?

Gosto muito de interpretar, declamar ou ler, (em leitura performática), minhas poesias. Sinto-me absolutamente à vontade para fazer isto. Interpretar a si mesmo é maravilhoso. Nos anos de 1990 concluí o curso de Ator, e isto me auxiliou em minhas leituras performáticas.


IF – Luiz Arthur, alguns falam que a Poesia não tem utilidade prática, que não serve para o mundo de hoje. Qual é a sua opinião?

Rsrsrsrs. A poesia não tem finalidade de ser prática ou não. Ela nasce conosco, e por ela expressamos nossos sentimentos de amor, alegria, felicidade, angústia, raiva...           Praticamente todos os sentidos são representados nesta forma de escrita. É pela poesia que podemos conhecer um poeta, uma vida, um bem-viver, (ou não).


IF – Você acha que em poesia o título é importante ou é supérfluo?

São duas questões que merecem ser discutidas. Muitos estudiosos de literatura afirmam que o título é a apresentação de uma poesia. Pelo título pode-se melhor perceber a poesia. Então não é supérfluo. Por um lado, mais simplista, quando a poesia tem um título ela é mais fácil de ser citada e lembrada pelo leitor.

Neste momento da minha vida literária, nos dois mais recentes livros não utilizo de título para as poesias tendo em vista que há uma continuidade dos escritos de uma página à outra. Assim sendo o título do livro já é o título de cada poesia.


IF – Se você fosse obrigado a escolher um poema de sua autoria que represente o seu estilo, a sua voz poética, qual escolheria? 


Há dois poemas que podem definir o meu estado poético.

O primeiro é de “Poesias para um grande amor”: (50p – 2015)

 

Mar da minha angústia

No mar da minha angústia encontro um barco à deriva

pensamento angustiante

que passa desapercebido

 

Neste mundo angustiante beijo o vento

nado, nado para o nada,

a cada braçada sinto o peso do nada,

da vida legada ao consumo do inexistente

que permeia o mar da minha angústia

 

 Olho, nado

afogo-me, momentaneamente, nas lágrimas do nada

 

 Canso, quase desisto – falta-me o olhar

o desejo de segui,

não percebo o encontro

 

Beijo, novamente, o vento

mergulho no passado tão próximo,

quero pegá-lo

 

Vejo a miséria do acaso compassivo,

fico no percurso do meu corpo.

 

Momentos de angústia reproduzem a solidão

beijo o vento e não beijo a vida:

é o mito do crepúsculo da morte

 

Bebo o sal da ignorância

beijo e vento e não a vida,

nado, nado para o nada

neste Mar da minha angústia...

 

O segundo é do livro Corações Alados (83p – 2021)


Mi corazón es tuyo mi amor

como é bom entregar-me a você

como é bom pode te amar

te desejar

te sentir

te beijar

 

Mi corazón es tuyo mi amor

sentir o teu dedilhar em meu corpo

me deixa alado: feliz

me deixa perfeito,

perfeito tal qual somos nós

perfeito tal qual o nosso viver

o nosso saber:

o nosso amar

 

Mi corazón es tuyo mi amor

saber que você me ama

me deixa louco

extasiado

feliz, muito feliz

 

Ah! Meu amor

Que tanto amo

Mi corazón es tuyo mi amor

Besos

 

Luiz Arthur

 

IF – E 2021 continua o problema da pandemia. Quais são os projetos para 2022?


2022 será um grande ano para todos nós, com ou sem pandemia. Acredito que já aprendemos a lidar, contornar e viver este período da história da humanidade.

Dos meus projetos estão incluídos:

a)    Lançamento do Livro “Borboletas Aladas”, poesias, poemas, escritos e cartas de amor em português com tradução para o espanhol.

b)    Farei uma exposição individual com a temática do livro, em que apresento obras de arte em várias técnicas como objetos, desenhos, aquarelas, acrílica mista e óleo.

c)    Apresentação de várias Leituras Performáticas de Poesias, Poemas, Escritos e Cartas de amor.

d)    Viver intensamente cada momento que me for permitido. Viver no mundo da Cultura como um todo



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