Isabel Furini entrevista o poeta Almir Luz

 

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1)      Há pouco tempo, você conquistou o 3º lugar em um concurso de trova. Fale um pouco de seu início como poeta. Quando começou a ler poemas e quando começou a escrever poemas.

 

R:   O meu interesse por poesia começou no Ensino Médio, aos quatorze anos, quando tive contato com o Parnasianismo e Simbolismo. Aos dezessete anos a bibliotecária, muito querida, que trabalhou no Colégio da Polícia Militar do Paraná, incentivou-me a falar com Helena Kolody. Busquei o contato dela, na época era na lista telefônica impressa, e na primeira ligação realizada a sua irmã atende e informa que a sra. Kolody estava extremamente adoecida. Não tinha mais condições de atender ao público, infelizmente. Confesso que fiquei frustrado, todavia encontrei no site da Academia Brasileira Virtual de Letras o contato de Dária Farion. Antes de entrar em contato li todas as poesias dela, as que estavam disponíveis no site da AVBL e de blogs parceiros, fiquei impressionado no vocabulário erudito dela. Até hoje não vi ninguém usar certas terminologias em versos, ela sabia termos muito específicos da música e da Medicina. Segundo ela isso foi influência dos filhos e dos anos de atuação como professora de português. Enviei um e-mail e meus primeiros versos e ela, como uma professora querida, acolheu-me gentilmente. Recebi um convite para visita-la em sua casa, passei uma tarde espetacular, com direito a um café muito aconchegante. Voltei feliz para casa porque ganhei diversos livros de poesia, inclusive  um dela: Ósculo Poético.

No mês seguinte ela pediu para acompanha-la no Centro de Letras do Paraná, onde fui apresentado para todos que lá estavam presentes. Neste dia conheci a professora Roza de Oliveira, a qual sempre incentivou-me, e no mês de dezembro, do mesmo ano, tornei-me  o paranaense mais jovem a tomar posse no Centro de Letras do Paraná. O Desembargador Luís Renato Pedroso sempre foi muito bom anfitrião no Centro de Letras, o querido confrade sempre me recebeu com um sorriso no rosto. Tenho em minha recordação que foram diversos chazinhos com biscoito que tomei nas terças da poesia. Em 2020 lancei meu primeiro ebook, amplexo poético, e em 2022 a Antologia do I Concurso de Poesia da Faculdade de Direito da UFPR. Neste caminho tive a alegria de ter algumas poesias selecionadas em concursos, uma felicidade indescritível ver o resultado de estudo. Claro que o poeta precisa ter um feeling para o ofício, todavia é a prática e leitura que amadurecerão. Além, claro, da passagem dos anos na vida e das vivências adquiridas.

 

 

2)      Como é seu processo criativo? Para escrever um poema, por exemplo, você parte de uma palavra? De uma imagem? De uma ideia? De acontecimentos?

 

R: Que pergunta interessante! Quando comecei a escrever, usava papel e caneta, tinha um caderninho específico para compor. Com o passar dos anos passei a gostar de digitar os versos.

Vários são os insights, digamos assim, pode ser um sentimento que gere o impulso criativo. Dois sentimentos já impulsionaram em mim, de forma avassaladora, o desejo criativo: o amor eros e a tristeza. Geralmente são as situações cotidianas que geram a vontade de escrever, porque já aconteceu de observar as estrelas e sentir vontade de escrever sobre a vida. Uma coisa puxa a outra. Olhar a imensidão do Universo nos faz refletir sobre a existência. A chuva, remete ao elemento água, muito utilizado por Baudelaire em seus versos, e a água é tão repleta de simbologias e significados. A dissertação de mestrado da Roza de Oliveira era sobre “A Imagem da Água na Poesia de Tasso da Silveira”. Essa fenomenologia entre nosso corpo e o meio ambiente é capaz de nos gerar diversas sensações e estímulos, pelas mais diversas propriedades organolépticas do nosso corpo.

 

 

3)      Nesta época muitas pessoas escrevem. Você pensa que essa explosão poética elevará a poesia ou, ao contrario, pode banalizar a criação poética?

 

R: Acredito que independente da modalidade poética, classe social, o poeta precisa entender que poesia é arte através das palavras. E requer uma criatividade para dar voz aos sentimentos ou fatos sociais. Em Recife tive contato com uma modalidade de poesia chamada “Poesia Marginal”, isso foi em um evento em 2016, os estudantes da UFRPE expunham mensalmente suas poesias em um livreto que se distribuía no meio universitário. Chamava-se Poezine. Nestes poemas eles falavam sobre fome, miséria, racismo, exclusão social dos periféricos. Neste aspecto acredito que a arte cumpriu sua função porque eles retratam, com verdade, a realidade social da qual só eles possuem o domínio fático infligido pela práxis cotidiana.

Todavia penso que é injusto punir o trovador, o sonetista, o poeta clássico, como se ele fosse um mero executor de versos sem sentimentos. Onde quero chegar? Associar o alto grau de formação intelectual de um poeta com elitismo é injusto, visto que cada um expressa a arte como deseja. Diversos poetas, inclusive eu, dedicaram sonetos à natureza, ao Meio Ambiente, aos Direitos Humanos. Acho que a identidade é elemento crucial, dentro dos seus limites de expressão e arte, desde que  não interfira na identidade de outrem. Nessa perspectiva creio que haveria banalização da arte, no sentido de ceifar o espírito criativo de outrem ao invés de preocupar-se com a verdade. Como disse, em suas cartas, o ilustre Maria Rilke. Falar a verdade. A partir do momento que alguém diz amar poesia e usa sua energia, chamada por Freud de catexia, para somente invadir os meandros da subjetividade alheia, perde. Nesse sentido há banalidade e a pessoa cai na famosa Navalha de Ockham, da falácia do dever-ser, porque os julgamentos estão no observador e não no objeto. Isso é o princípio básico da epistemologia kantiana. Quando a arte ganha esse viés, ela perde a verdade porque só nós podemos falar por nós. Não há como invadir metafisicamente o ethos alheio e proferir-lhe julgamentos. Neste aspecto haveria banalização da arte. A verdade está no coração de cada um, da sua realidade, da sua vivência, das suas emoções. Falar de si. Esse é o caminho. Falar do que se vive. Agora supor o que o outro sente ou pensa, isso banaliza a arte. É uma área intangível.

 

 

4)      Para você é uma tarefa fácil ou difícil colocar títulos aos poemas?

 

R: Essa pergunta complementa a anterior, do processo criativo, porque geralmente algo gera o insight criativo. E esse algo que pode ser um sentimento, um fato, um cheiro de perfume, o sabor de um alimento, acaba sendo o elemento que pende mais na hora de escolher um título. Não sei com relação aos demais poetas, geralmente meus títulos giram em torno do vetor que impulsionou o engendramento poético.

 

 

5)      Fale um pouco do Concurso da UFPR.

 

R: A primeira vez que auxiliei a organizar um concurso de poesia foi em 2013, a pedido do poeta argentino Miguel Almada (já falecido). Na época trabalhei na Câmara Municipal de Campo Largo, fui aprovado no concurso público realizado em 2012 e tive a oportunidade de conhecer a Casa da Cultura de Campo Largo. Em decorrência dessa visita, na Casa da Cultura, fiz amizade com o sr. Almada. Nessa mesma época ele estava fundando a Academia Campolarguense da Poesia e o concurso seria importante para trazer visibilidade ao projeto. Auxiliei na confecção do edital e na divulgação nas redes sociais, jornais e blogs. Concurso que teve como vencedora, na categoria nacional, você (querida Isabel). Anos depois, na Faculdade de Direito da UFPR e no curso de Relação Internacionais da Uninter, senti vontade de resgatar essa iniciativa realizada no passado. Uma espécie de nostalgia misturada com vontade de inovar. O curso de Relações Internacionais auxiliou na divulgação do evento, de forma muito amiga, assim como a direção do Setor de Ciências Jurídicas da Faculdade de Direito da UFPR – que ajudou bastante.

 

 

6)      Qual foi sua função? Como foi organizado o evento?

 

R: Foi muito trabalhoso? Foi! Criar edital, redes sociais, arte, mandar e-mails para blogs e jornais, conseguir jurados, reservar Salão Nobre, organizar o cerimonial, organizar certificados, conseguir equipamento de som, conseguir o piano foi uma tarefa hercúlea. Organizar a antologia, elaborar o e-book, tudo isso exigiu dedicação. Inclusive o livro ficou 2 semanas em 1º lugar, na Amazon, na categoria poesia e isso considera-se uma vitória. Na categoria nacional a jurada foi a  Andreia Motta Paredes, querida confrade do Centro de Letras do Paraná e da UBT-Curitiba e o professor Leonardo Cisneiros (que faleceu ano passado), ele era professor de Filosofia da UFRPE.

 

 

7)      O pessoal se manifestou sobre o evento? Você pessoalmente recebeu e-mail ou comentários sobre os poemas ganhadores, sobre a organização?

 

R: Recebemos diversos e-mails dos selecionados, dos familiares deles, jornalistas também. Inclusive recebi uma proposta para realizar evento literário em uma biblioteca aqui em Curitiba, recebi um feedback muito bom. Repercutiu em diversos jornais em Jundiaí-SP, o concurso foi matéria local em Erechim-SC, diversas pessoas informaram que gostariam de participar na próxima edição. Em decorrência disso, na segunda edição, abriremos a categoria internacional para “Países Lusófonos” e “Pós-graduação”.


 

8)      Fale de seus projetos na área literária para o segundo semestre de 2022.

 

R: Vou começar a planejar o II Concurso de Poesia da Faculdade de Direito da UFPR, também pretendo transformar o Amplexo Poético em livro físico. Novamente fui aprovado em um concurso público, assim que tomar posse penso em colocar em prática algum sarau literário no município de Almirante Tamandaré. Ando motivado para participar de antologias literárias.

 

 

 

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