1)
Há pouco tempo, você conquistou o 3º lugar em um
concurso de trova. Fale um pouco de seu início como poeta. Quando começou a ler
poemas e quando começou a escrever poemas.
R: O meu interesse por
poesia começou no Ensino Médio, aos quatorze anos, quando tive contato com o
Parnasianismo e Simbolismo. Aos dezessete anos a bibliotecária, muito querida,
que trabalhou no Colégio da Polícia Militar do Paraná, incentivou-me a falar com
Helena Kolody. Busquei o contato dela, na época era na lista telefônica
impressa, e na primeira ligação realizada a sua irmã atende e informa que a
sra. Kolody estava extremamente adoecida. Não tinha mais condições de atender
ao público, infelizmente. Confesso que fiquei frustrado, todavia encontrei no
site da Academia Brasileira Virtual de Letras o contato de Dária Farion. Antes
de entrar em contato li todas as poesias dela, as que estavam disponíveis no
site da AVBL e de blogs parceiros, fiquei impressionado no vocabulário erudito
dela. Até hoje não vi ninguém usar certas terminologias em versos, ela sabia
termos muito específicos da música e da Medicina. Segundo ela isso foi
influência dos filhos e dos anos de atuação como professora de português. Enviei
um e-mail e meus primeiros versos e ela, como uma professora querida,
acolheu-me gentilmente. Recebi um convite para visita-la em sua casa, passei
uma tarde espetacular, com direito a um café muito aconchegante. Voltei feliz
para casa porque ganhei diversos livros de poesia, inclusive um dela: Ósculo Poético.
No mês seguinte ela pediu para
acompanha-la no Centro de Letras do Paraná, onde fui apresentado para todos que
lá estavam presentes. Neste dia conheci a professora Roza de Oliveira, a qual
sempre incentivou-me, e no mês de dezembro, do mesmo ano, tornei-me o paranaense mais jovem a tomar posse no
Centro de Letras do Paraná. O Desembargador Luís Renato Pedroso sempre foi
muito bom anfitrião no Centro de Letras, o querido confrade sempre me recebeu com
um sorriso no rosto. Tenho em minha recordação que foram diversos chazinhos com
biscoito que tomei nas terças da poesia. Em 2020 lancei meu primeiro ebook,
amplexo poético, e em 2022 a Antologia do I Concurso de Poesia da Faculdade de
Direito da UFPR. Neste caminho tive a alegria de ter algumas poesias
selecionadas em concursos, uma felicidade indescritível ver o resultado de
estudo. Claro que o poeta precisa ter um feeling para o ofício, todavia é a
prática e leitura que amadurecerão. Além, claro, da passagem dos anos na vida e
das vivências adquiridas.
2)
Como é seu processo criativo? Para escrever um
poema, por exemplo, você parte de uma palavra? De uma imagem? De uma ideia? De
acontecimentos?
R: Que pergunta interessante! Quando
comecei a escrever, usava papel e caneta, tinha um caderninho específico para
compor. Com o passar dos anos passei a gostar de digitar os versos.
Vários são os insights, digamos
assim, pode ser um sentimento que gere o impulso criativo. Dois sentimentos já
impulsionaram em mim, de forma avassaladora, o desejo criativo: o amor eros e a
tristeza. Geralmente são as situações cotidianas que geram a vontade de
escrever, porque já aconteceu de observar as estrelas e sentir vontade de
escrever sobre a vida. Uma coisa puxa a outra. Olhar a imensidão do Universo
nos faz refletir sobre a existência. A chuva, remete ao elemento água, muito
utilizado por Baudelaire em seus versos, e a água é tão repleta de simbologias
e significados. A dissertação de mestrado da Roza de Oliveira era sobre “A
Imagem da Água na Poesia de Tasso da Silveira”. Essa fenomenologia entre nosso
corpo e o meio ambiente é capaz de nos gerar diversas sensações e estímulos,
pelas mais diversas propriedades organolépticas do nosso corpo.
3)
Nesta época muitas pessoas escrevem. Você pensa
que essa explosão poética elevará a poesia ou, ao contrario, pode banalizar a
criação poética?
R:
Acredito que independente da modalidade poética, classe social, o poeta precisa
entender que poesia é arte através das palavras. E requer uma criatividade para
dar voz aos sentimentos ou fatos sociais. Em Recife tive contato com uma
modalidade de poesia chamada “Poesia Marginal”, isso foi em um evento em 2016,
os estudantes da UFRPE expunham mensalmente suas poesias em um livreto que se
distribuía no meio universitário. Chamava-se Poezine. Nestes poemas eles
falavam sobre fome, miséria, racismo, exclusão social dos periféricos. Neste
aspecto acredito que a arte cumpriu sua função porque eles retratam, com
verdade, a realidade social da qual só eles possuem o domínio fático infligido
pela práxis cotidiana.
Todavia penso que é injusto punir o
trovador, o sonetista, o poeta clássico, como se ele fosse um mero executor de
versos sem sentimentos. Onde quero chegar? Associar o alto grau de formação
intelectual de um poeta com elitismo é injusto, visto que cada um expressa a
arte como deseja. Diversos poetas, inclusive eu, dedicaram sonetos à natureza,
ao Meio Ambiente, aos Direitos Humanos. Acho que a identidade é elemento
crucial, dentro dos seus limites de expressão e arte, desde que não interfira na identidade de outrem. Nessa
perspectiva creio que haveria banalização da arte, no sentido de ceifar o
espírito criativo de outrem ao invés de preocupar-se com a verdade. Como disse,
em suas cartas, o ilustre Maria Rilke. Falar a verdade. A partir do momento que
alguém diz amar poesia e usa sua energia, chamada por Freud de catexia, para
somente invadir os meandros da subjetividade alheia, perde. Nesse sentido há
banalidade e a pessoa cai na famosa Navalha de Ockham, da falácia do dever-ser,
porque os julgamentos estão no observador e não no objeto. Isso é o princípio
básico da epistemologia kantiana. Quando a arte ganha esse viés, ela perde a
verdade porque só nós podemos falar por nós. Não há como invadir
metafisicamente o ethos alheio e proferir-lhe julgamentos. Neste aspecto
haveria banalização da arte. A verdade está no coração de cada um, da sua
realidade, da sua vivência, das suas emoções. Falar de si. Esse é o caminho.
Falar do que se vive. Agora supor o que o outro sente ou pensa, isso banaliza a
arte. É uma área intangível.
4)
Para você é uma tarefa fácil ou difícil colocar
títulos aos poemas?
R: Essa pergunta complementa a anterior, do processo criativo, porque geralmente algo gera o insight criativo. E esse algo que pode ser um sentimento, um fato, um cheiro de perfume, o sabor de um alimento, acaba sendo o elemento que pende mais na hora de escolher um título. Não sei com relação aos demais poetas, geralmente meus títulos giram em torno do vetor que impulsionou o engendramento poético.
5)
Fale um pouco do Concurso da UFPR.
R: A primeira vez que auxiliei a
organizar um concurso de poesia foi em 2013, a pedido do poeta argentino Miguel
Almada (já falecido). Na época trabalhei na Câmara Municipal de Campo Largo,
fui aprovado no concurso público realizado em 2012 e tive a oportunidade de
conhecer a Casa da Cultura de Campo Largo. Em decorrência dessa visita, na Casa
da Cultura, fiz amizade com o sr. Almada. Nessa mesma época ele estava fundando
a Academia Campolarguense da Poesia e o concurso seria importante para trazer
visibilidade ao projeto. Auxiliei na confecção do edital e na divulgação nas
redes sociais, jornais e blogs. Concurso que teve como vencedora, na categoria
nacional, você (querida Isabel). Anos depois, na Faculdade de Direito da UFPR e
no curso de Relação Internacionais da Uninter, senti vontade de resgatar essa
iniciativa realizada no passado. Uma espécie de nostalgia misturada com vontade
de inovar. O curso de Relações Internacionais auxiliou na divulgação do evento,
de forma muito amiga, assim como a direção do Setor de Ciências Jurídicas da
Faculdade de Direito da UFPR – que ajudou bastante.
6)
Qual foi sua função? Como foi organizado o
evento?
R: Foi muito trabalhoso? Foi! Criar
edital, redes sociais, arte, mandar e-mails para blogs e jornais, conseguir
jurados, reservar Salão Nobre, organizar o cerimonial, organizar certificados,
conseguir equipamento de som, conseguir o piano foi uma tarefa hercúlea.
Organizar a antologia, elaborar o e-book, tudo isso exigiu dedicação. Inclusive
o livro ficou 2 semanas em 1º lugar, na Amazon, na categoria poesia e isso
considera-se uma vitória. Na categoria nacional a jurada foi a Andreia Motta Paredes, querida confrade do
Centro de Letras do Paraná e da UBT-Curitiba e o professor Leonardo Cisneiros
(que faleceu ano passado), ele era professor de Filosofia da UFRPE.
7)
O pessoal se manifestou sobre o evento? Você
pessoalmente recebeu e-mail ou comentários sobre os poemas ganhadores, sobre a
organização?
R: Recebemos diversos e-mails dos
selecionados, dos familiares deles, jornalistas também. Inclusive recebi uma
proposta para realizar evento literário em uma biblioteca aqui em Curitiba,
recebi um feedback muito bom. Repercutiu em diversos jornais em Jundiaí-SP, o
concurso foi matéria local em Erechim-SC, diversas pessoas informaram que
gostariam de participar na próxima edição. Em decorrência disso, na segunda
edição, abriremos a categoria internacional para “Países Lusófonos” e
“Pós-graduação”.
8)
Fale de seus projetos na área literária para o
segundo semestre de 2022.
R: Vou começar a planejar o II
Concurso de Poesia da Faculdade de Direito da UFPR, também pretendo transformar
o Amplexo Poético em livro físico. Novamente fui aprovado em um concurso
público, assim que tomar posse penso em colocar em prática algum sarau
literário no município de Almirante Tamandaré. Ando motivado para participar de
antologias literárias.
Belíssima Entrevista! Parabéns a todos os envolvidos, especialmente a Isabel!
ResponderExcluirparabénss a tdos, trabalho inspirador.
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